segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Amor sem Escalas, Jason Reitman

amorsemescalas

 

E a tradução brasileira faz mais uma vítima, lógico que a intenção é fazer o filme vender mais, contudo imagino as menininhas apaixonadas que veem um cartaz de um filme com Amor no cartaz correrem para dentro da sala de exibição e ficarem chocadas com o triste filme de Jason Reitman, em que happly ever é um conto de fadas.

Amor sem escalas é um filme sobre muitas coisas mas com toda a certeza não é sobre amor. Até a mais apaixonada personagem sucumbe a realidade do mundo ao levar um pé na bunda via torpedo. Up in the air, seria traduzido como Sem chão, Nas nuvens, Pairando no céu, muitas opções mas nenhuma que tenha Amor no título, pois é sacanagem vender o filme desta forma.

Ryan (George Clooney em interpretação sutilmente eficaz) é um funcionário de  um singular empresa que demite as pessoas no lugar dos chefes. Não entendeu? Bem simples. Um belo dia aquele funcionário de 20 anos de empresa precisa ser despedido e como o chefe não tem coragem, surge  Ryan que vem com toda a sua lábia demitir o coitado e lidar com qualquer reação que esta tenha. Estranho? Bastante, não pesquisei para saber se uma empresa deste tipo existe, mas eu creio que exista quase tudo no mundo. A grande sacada desta história é ver como ela se encaixa na atual situação americana, com demissões em massa e muitos desempregados. Em dado momento o chefe de Ryan comenta a respeito e informa “Este é o nosso momento!” frase que escancara a crítica e dá o tom de um filme em que permeia um humor negro muito sutil vindo principalmente os monólogos interiores de Ryan.

Ryan é um personagem que detesta os laços humanos, odeia ficar em casa (no último anos ele passou 43 dias em casa e odiou) e passa maior parte da vida sobrevoando os Estados Unidos e demitindo pessoas por outros. Sua grande paixão, aquilo que o deixa bem, é ficar dentro de um avião ou de um hotel. Em uma dessas viagens ele conhece uma pessoa como ele, Alex (Vera Farminga), ao qual mantém uma espécie de relacionamento casual que irá crescer durante o filme.

A outra mulher que vai intervir na vida de Ryan é  Natalia (Anna Kendrick) ao quem ele precisa treinar no serviço. Essa personagem tem um plano revolucionário para a empresa que é cortar as viagens dos funcionários, com meio de cortar despesas. Para isso as demissões agora serão feitas por videoconferência! Além de receber a notícia de que depois de todos esses anos seus serviços não são mais necessários, a pessoa verá isso por meio de um computador, nem mesmo uma pessoa virá informá-lo. Toda essa trama vai culminar em todas as suas ramificações para criar um mundo em que a impessoalidade é total.  Um mundo muito próximo do nosso e por isso, e principalmente por seu final, é que este filme está sendo ovacionado, merecidamente, diga-se de passagem. Ele pega todas as regras de uma comédia romântica, cria uma história tão agradável, em que as coisas podem dar bem para jogar seu espectador no limbo da depressão.

Possivelmente é um dos filmes mais tristes que já vi no cinema, muito um função da interpreta ção de George Clooney e pessoalmente pois sinto que muitos de nós estamos caminhando par virar um eventual Ryan e o que fica bem claro é que certas coisas, decisões ou fatos da vida, não tem volta. Talvez o mais aterrorizante seja ver em sua palestra sobre se desapegar das coisas da vida (tanto materiais como humanas) para poder viver, e você secretamente concordar com essa visão de mundo pois ele é muito bem escrito para evocar a emoção certa na hora certa, por isso também que seu final é tão destrutivo. Vão assistir pois é um filme que reflete o agora, com ótimas atuações e um roteiro esperto, mas fica o aviso para os mais sensíveis não há nada de Amor no filme.

Moedeiros Falsos, André Gide

 

Moedeiros falsos_2.indd Quando li Os subterrâneos do Vaticano, fora porque eu tinha ouvido falar bem do livro em minhas excursões pelas várias listas de melhores livros do mundo, e também porque em uma de minhas habituais idas a sebo no começo do ano eu tinha achado uma edição de 1971 à preço de banana, o que era um sinal divino para a aquisição e leitura. Creio desde essa época eu não vejo uma edição de qualquer livro de Gide nas nossas livrarias, muito menos nos sebos. Agora na passagem de ano, uma das melhores editoras nacionais de literatura resolveu republicar a obra de Gide em traduções nacionais lançando quatro títulos de uma vez incluindo o já citado com nova tradução, Os Porões do Vaticano.

Os Moedeiros falsos é sua obra mais importante no âmbito do panorama mundial. é romance sobre a construção do romance e também sua primeira obra que mexe com o homoerotismo explicitamente, tema que será recorrente na década 20 e tem como ápice o livro Corydon, um tratado em prol da liberdade sexual.

Moedeiros acompanha vários personagens pela ruas de uma Paris do começo do século, todas elas transitam pela arte e pelos relacionamentos humanos. Os fios condutores são Bernard, um menino que se descobriu bastardo e fugiu de casa para vencer na vida sozinho. O amigo deste, Olivier, um menino a qual todos reconhecem ter um grande talento para artes e será disputado no decorrer do romance por todos os personagens, e tio de Olivier, Edouard, um escritor famoso de meia idade que tem uma paixão platônica e sonha em escrever um  romance de ideias, Os moedeiros falsos, assim com Velásquez pinta a si mesmo no quadro das garotinhas ou Charlie Kaufman, explica o processo de construção de um roteiro no fantástico Adaptação, a grande sacada deste romance é esse espelho que faz com a obra que está lendo, sendo que o personagem principal é Edouard, reflexo claro de Gide.  Edouard quer escrever um romance sobre a vida, totalmente real, mas que não tenha uma história propriamente dita, em parte é a estrutura do romance visto que em dado momento há tantas coisas acontecendo que você não sabe mais qual é o fio narrativo principal, contudo o livro não é completamente solto de um estrutura sendo que as histórias que o iniciam tem um final, outras desaparecem no interior da narrativa. O capítulo principal para que isso aconteça é o final da segunda parte em que o narrador comenta cada um dos personagens que criou, como se estivesse impotente para modificar seus atos, e outros ele resolve não falar mais na terceira parte como é o caso de Lilian.

Dentro da sub-histórias, temos um homem querendo reencontrar o neto. Este sendo uma criança fechada e tem uma relacionamento bonito com uma outra menina. Um escritor vaidoso que todos odeiam, a paixão de Edouard estando grávida de um adultério, o irmão mais velho de Olivier como conquistador barato, e o mais novo se encarregando ao final do livro de dar um sentido ao título sendo que ele põem em circulação moedas falsas na cidade. É um livro de difícil classificação visto que flerta com todos os gêneros, e ao mesmo tempo não pertence a nenhum, de uma habilidade narrativa extrema e de um final perturbador que de tão sombrio sua significação, pessoalmente, me remete ao lado negro da vida que é velado em várias histórias. No todo o livro constitui um panorama sobre a vida dos indivíduos na cidade  e na incapacidade da arte de conseguir retratar de maneira real os fatos da vida. Edouard diz que não usara a tragédia que se abate aos personagens no final do romance, por questões morais e pessoais, mas já está lá descrito pelo narrador, as limitações que Edouard põem ou quer colocar em sua obra é aquilo que impede de escrever e sobre as diversas fases da escrita do romance este livro é um primor da metalingüística. Vale a leitura, um clássico sempre vale.

sábado, 23 de janeiro de 2010

DEIXA ELA ENTRAR, Tomas Alfredson

 

deixa-ela-entrar2 Os clássicos podem aparecer de algumas formas, mas sobretudo de três maneiras. Ele já vem com cara de filme grande, gera muitas expectativas e muita gente torce pro maldito afundar mas não consegue, como exemplos práticos temos desde E o vento levou até o recente Avatar. Também podemos ter aquele filme que é descoberto depois em dvd mesmo, como À espera de um milagre e tem aquele filme que escapa de todo radar cinematográfico em alerta, normalmente uma produção pequena que se destaca por sua ousadia, caso do recente Distrito 9 e desta pérola sueca.

Em tempos em que o conceito original de vampiro está sendo reinventado a cada dia, sendo que, recentemente, sua pele virou diamante (vocês nunca pararam para pensar como isso é herético!?), é bom ver o velho mito em tela grande tal como foi criado, inclusive a regra mais estranha que as histórias costumam ignorar, que é a de que um vampiro só pode entrar na casa de alguém se for convidado. Alias, a última vez que vi alguém respeitar isso foi em Buffy, a caça-vampiros, os vampiros eram parados por alguma barreira invisível na porta das casas dos moradores de Sunnydale sendo que essa até hoje era a interpretação mais plausível para essa parte da lenda, contudo devo informar que Tomas alfredson criou uma cena muito mais fantástica para explicar isso. Alias, creio que todo o filme deve girar em torno dessa cena, tanto é que o título do filme se remete a esse detalhe.

Oskar (Kare Hedebrant) é um menino de 12 anos, sensível e infernizado dia-a-dia pelos valentões da escola. Em sua casa ele fica imaginando o dia em que vai se vingar. Eli (Leni Leandersson uma promessa de grande atriz) é uma vampira e sua nova vizinha, também de 12 anos mais ou menos. O filme não te enrola. Ele vai direto ao ponto por meio de um terceiro personagem que é o pai de Eli, um sujeito atormentado pois se tornou um serial killer, visando proteger sua menina. Antes dos minutos iniciais ele já está assassinando um jovem para coletar sangue, contudo ele já está demasiadamente conhecido e seus ataques costumam a não dar certo, sendo que em dado momento Eli vai ter que se virar sozinha. Parte do drama é que os vampiros não são seres  bonzinhos que podem comer outra coisa, ou podem só tomar sangue de animais, eles tem que sugar sangue humano e fresco! A genialidade é que, assim como Freud inaugurou a psicanálise e Otto Lara Resende fez um clássico da literatura  nacional ainda não descoberto (A boca do inferno), o filme nota também que as crianças não são boazinhas. Isso pode ser visto tanto na gangue de pentelhos que enchem o saco do protagonista, quanto na imagem que Eli faz do mesmo. Não há nada de bonitinho no mundo infantil do filme, a única coisa tocante é o relacionamento que vai se desenvolvendo entre os dois protagonistas.

No todo o filme é uma história de amor infantil, tão interessante quanto o clássico da sessão da tarde Meu primeiro amor, e se não mais tocante. Há algumas transgressões interessantes na estrutura desse romance, pois ao mesmo tempo em que temos a ingenuidade própria da idade há um relacionamento que transcende  o básico, um amor platônico que fica no silêncio entre os dois, ou sentimentos mais sensuais entre os dois como Oscar expiado Eli trocar de roupa, ou ela própria se embrenhando nua em sua cama.

E logicamente a genialidade maior reside no diretor que consegue combinar gêneros variados na sua obra. Sim, é um romance. Macabro, mas um romance. Contudo ele  combina isso um verdadeiro encadeamento de assassinatos e cenas fortes com uma suavidade incrível. Você não abstrai desta história que em certos pontos refletem as sutileza dos gestos dos protagonistas e em outras surge um homem deformado caindo 7 andares abaixo. Essa talvez a principal qualidade da obra, a sua direção competente. Tomas lembra muito Wong Kar-Wai na relação dos personagens com o espaço, ou como o espaço físico reflete as personagens em certos momentos, mas ainda tem pulso firme para criar a tensão, simulando a violência mais do que mostrando-a. No final do filme isso fica ainda mias claro, pois ele vai aos extremos desses dois tópicos sem perder o filme.

Um romance fantástico, vale muito a pena assistir. Só para salientar ele já ganhou 57 prêmios desde sua estreia em 2008, sendo que está indicado ao Bafta de Filme estrangeiro deste ano. Quando vai estrear? Estreou em setembro, só na rede Unibanco de cinemas.e ainda está passando em uma sessão especial há 00:00 de sexta a domingo, vale salientar que sessão especial no Unibanco é coisa chique, e que romance tocantes com genocídio no meio é algo único e que a Suécia é terra do Bergman e do Nobel e… é muito bom! 10.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Ervas Daninhas, Alain Resnais

Ervas_Daninhas Ao final da projeção a plateia já deveras atordoada com o rumo dos acontecimentos é brindada com um sequência de passeios com câmera até chegar no rosto de uma garotinha, que por sua vez faz a seguinte indagação “Quando eu for um gato posso comer comida de gato?”. E o filme acaba e nós ficamos no vácuo tentando localizar onde isso se encaixa na história que acabamos de ver. Lógico que há pessoas que vão sair irritadas do cinema, outras vão sair como se tivessem descobrindo algo mas não soubessem exatamente o que é, e há pessoas que vão se divertir bastante com as situações absurdas do filme. Atualmente aos 87 anos o enfant terrible do Nouvelle Vague continua a chamar as pessoas a sala de projeção sem ter um estilo específico e sempre surpreendente.

Dentro da obra diacrônica de Resnais esse é uma continuação temática de seu último trabalho Medos privados em lugares públicos,  vide que a matéria prima do filme são as intricadas relações humanas, contudo é totalmente diferente em sua concepção, se em Medos o maior charme está nas histórias que se entrecruzam em uma Paris paralisada com a Neve, o roteiro de  Ervas Daninhas é extremamente simples sua execução que é complexa.

Marguerite (Sabine Azéma que também estava em Medos Públicos) é uma mulher estranha que tem sua bolsa roubada, Georges Palllet (André Dussollier, perfeito) acha sua carteira e partir daí começa um caso de amor a primeira vista, ou a primeira neurose vide que Georges é outra pessoa muito estranha. Parece simples mas não é, Resnais destrói a primeira premissa de amor à primeira vista quando ele só se encontram no terço final do filme e Georges pergunta para riso geral “então você realmente me ama” . A relação desenvolvida antes disso é quase uma psicose de Georges em perseguir Marguerite no telefone, espionando-a e imaginando em sua própria solidão o porquê dela não querer conhecer a pessoa que encontrou sua carteira. Depois que ele para de  importunar-la é a vez dela de se sentir angustiada com a solidão que a falta dos telefonemas de Georges. (?). Paixão? Loucura? Psicose? O fato é que um relacionamento estranhíssimo.

Junte-se a isso o fato de termos vários gêneros dentro do filme do romance, a sátira deste, temas noir, comédia de humor negro e um desempenho estrondoso dos dois atores principais, aliados a câmera nada simples de Resnais que filma os dez primeiros minutos sem mostrar o rosto dos personagens, usufrui de câmera lenta, sátiras do cinema e joga ervas daninhas em nossa cara toda vez que a história toma outro rumo. O enfant terriblé! Se à algo constante no filme é seu clima de surrealismo que só se torna perceptível no final quando você já está atordoado, mas pontua o filme desde de seu início (Ele começa com uma grande descrição de pés), pronto a salada está completa.

Outro ponto importante da película é o fato de escutarmos o pensamento dos personagens e como sas neuroses são pautadas por coisas sem importância, ou mais especificamente por besteiras. Georges começa sua perseguição pelo fato de Marguerite no telefone não ter querido conhece-lo pessoalmente, Marguerite por sua vez vai atrás dele primeiro por querer saber se ele está bem, depois por ele não estar mais reparando nela. Esses pensamentos de situações pequenas que se desenrolam em tempestades interiores talvez sejam as ervas daninhas do ´titulo, aquilo que começa pequeno e depois é calo no cérebro nos incomodando de maneira importuna. Assim também é a última frase do filme, que por parecer não ter lugar dentro da história fica remoendo em nossas mentes. Um presente de Resnais para seu público? Talvez. Com 87 anos e ainda um enfant terrible.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

SHERLOCK HOLMES, Guy Ritchie

sherlockholmes "Elementar meu caro Watson" não é proferido nenhuma vez, Sherlock arrebenta a cara de dois gorilas logo no início da película e sua arrogância e sarcasmo pululam nesta encarnação do personagem por Robert Downey Jr. Com certeza esse não é o Sherlock Holmes que você conhece muito menos que eu conheci, Entretanto quem se aventurou a conhecer a obra original de Sir Arthur Conan Doyle se alumbrava ao descobrir um Sherlock também diferente das transposições cinematográficas. O Sherlock de Doyle é muito mais introspectivo, usa drogas e está muito mais para o nosso tradicional anti-herói do que para o símbolo de boas virtudes, mas o que podemos esperar de alguém que se diverte memorizando cada tipo diferente de terra nos arredores de Londres?

Talvez por isso essa adaptação fosse tão aguardada, uma promessa de fazer um filme mais próximo do ideal do detetive estranho criado há dois séculos e também porque o último grande filme com Sherlock Holmes do qual me lembro se centrava em sua infância e passa na Sessão da tarde (logicamente picotado), contudo fora uma superprodução para a época e uma reinvenção inteligente do personagem, o filme foi o Enigma da pirâmide. Desde então não havia uma superprodução como a que foi designada para este filme que, alias, já está pronto há mais de um ano.

A abordagem segue uma fidelidade estrutural na obra de Doyle e em certos personagens, mas com a já habitual necessidade de adaptar a novos tempos (e leiam-se aí adolescentes), o filme ganhou ares mais modernos em seus protagonistas, e em especial no personagem de Sherlock que afasta a imagem do detetive velho, fechado e anoréxico e entra o galã da meia idade redescoberto Robert Downey Jr, forte e sarcástico. As mudanças já eram previstas na pré-produção sendo que quem abraçou o projeto foi o bad-boy Guy Ritchie, que para quem não conhece é o ex da Madonna e é o Quentin Tarantino inglês, o que já demonstrava o caráter dirty real estético e ação incessante que o filme iria ter. Quando saiu o trailer já se comprovou tudo o que era pensado a respeito, Sherlock Holmes estava de volta em grande produção e em um filme que vai reintroduzir o personagem na cultura pop. Mais afinal de contas, o filme é bom?

Sim ele é. Temos três situações distintas: Se você é um ignorante no assunto vai encontrar um filme legal em que vai se divertir bastante com a história e química entre os dois personagens. Se você conhece um pouco do universo e sabe que Baker Street não é uma novela tosca do Jô Soares, e sim a rua em que Sherlock incomoda a todos com seu violino, mais precisamente no 221b, você vai gostar de ver a nova versão e ver a série de citações e homenagens ao universo de Sherlock, estão todos no filme até mesmo o Moriarty. Se você é do Hard core fan-club (e eu não sabia que existiam tantos), você vai achar que faltou algo no filme, e será o Sherlock Holmes dos livros, pois a transposição interessante de Downey se parece mais com ele do que com o personagem clássico.

A trama é relativamente simples, sendo que as complicações estarão ligadas aos mistérios do sobrenatural que Lord Blackwood (Mark Strong, em papel bem simples) expõe na tela. Sherlock já começa indo atrás do vilão e o prendendo por múltiplos assassinatos envolvendo magia negra, após a morte deste por enforcamento o mistério continua, pois ele volta dos mortos e os assassinatos continuam, aumentando sua fama e o medo em Londres. A isso se junta os problemas de relacionamento entre Watson (Jude Law muito bem) e Holmes, já que Watson está partindo para a ventura do matrimônio e Irene Adler (Rachel MacAdams), o grande amor da vida de Holmes reaparecendo o que significa mais problemas.

É um filme que se centra muito mais no contraste entre a ação ininterrupta e a comédia inteligente de Ritchie, que não consegue fazer nada próximo do drama, mas não passa disso também. Creio que seu único defeito está na parte estrutural, que ironicamente foi a transposição mais fiel da estrutura dos livros, pois quando chegamos ao final da projeção em menos de cinco minutos Holmes resolve todos os mistérios do Lord Blackwood, em uma verborragia à la Robert Langdon, que pode deixar muitos espectadores, com o olhar “what a fuck?”, pois as resoluções são bem inventivas. O que funciona muito bem no livro, no cinema fica maçante, porém é só um detalhe. Vale o ingresso para pura diversão.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

UM SONHO POSSÍVEL, John Lee Hancock

      o_lado_cego   Deus do céu. Sandra Bullock vem forte para  o Oscar!!!!! Seu papel não é algo extraordinário, mas a boa imagem do filme, seu sotaque e uma performance bem diferente do usual devem garantir uma indicação para a bela quarentona. Se a Julia Roberts conseguiu, torçam os dedos.
         O filme no caso ainda não foi lançado no Brasil, contudo como faço parte da Associação Estrangeira de Hollywood eu já vi rá.rá.rá. Pelo menos o exemplar que vi saiu desses DVDs que são distribuídos para eles, mas não digo como tive acesso a isso, pois não vou queimar minha fonte. Em todo caso resolvi assistir este dessa forma, pois de acordo com o histórico de filmes que tem o futebol americano como centro em território brasileiro, não vai importar que ele não se centre nisso, que seja para toda a família e que seja um filme emocionante de amizade... Ele vai passar direto por nossos cinemas! Se você por acaso ficar com vontade de assistir não espere uma segunda chance quando ele sair.
         A história é bem básica: Uma mulher rica e de vida totalmente resolvida se depara com o grande moço Michael, que apesar da idade avançada esta nas primeiras séries do Ensino fundamental americano, ela acaba o ajudando por uma noite pois ele não tem onde ficar, o que acaba virando uma temporada inteira, um apego com a família e uma adoção legal por parte da família daquele menino que tinha tudo para ser mais uma vítima na guerra e gangues, ou alguém sem futuro nas periferia das grandes cidades americanas. Ele se dá bem com todos os membros e devido ao seu tamanho elevado, seu instinto protetor e bom coração a família o incentiva a entrar para o esporte, mais especificamente ao futebol americano. Por que isso? Para quem não sabe não existe USP,Unesp, PROUNI ou qualquer tipo de faculdade gratuita nos States. Contudo a melhor maneira de não pagar os estudos universitários é entrando como atleta da universidade. Milhares de bolsas são distribuídas para os melhores nadadores, jogadores de basquete e tudo que possa existir competição. Depois ninguém sabe porque os caras ganham quase tudo nas Olímpiadas! Não pense que o mérito por intelecto é jogado fora, há bolsas para esses alunos também, contudo é muito interessante que Universidades avaliem o desempenho  poderiam ter mais chances nos estudos, enfim...
        A personagem de Sandra tem um gênio mandão que combina bem com a atriz. Acho que nunca fez um papel dramático que caísse tão bem (Alguém assistiu aquela abobrinha do 28 dias?), lógico que o cômico será pelo resto da eternidade a Miss Simpatia, mas aqui ela sustenta boa parte do longa sozinha. Toda essa caridade gratuita que vai se desenrolando na tela é porque ela põem a veracidade na personagem, o roteiro não explora as contradições que poderiam existir ou conflitos que poderiam recorrer. O filme é feliz, você fica torcendo para que todo mundo fique com o sorriso no rosto no final e saíam abraçados. Ao final da projeção levantam uma questão que poderia tornar a coisa muito mais complexa, mas com mesma sutileza que ela é introduzida, a Sandra manda para escanteio antes que o drama realmente chegasse e você saí feliz do filme. Bem legal, há um certo exagero nas indicações que ela anda recebendo mas é indiscutível que ela é a alma do filme.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

ABRAÇÕES PARTIDOS, Pedro Almodovar

 

   abraços partidos

     Existem muitos casos de amor platônico entre o diretor e seus atores: Woody Allen e Diane Keaton, Ingmar Bergman e Liv Ullman, Alfred Hitchcock e Grace Kelly, Felini e Marcelo Mastroianni. Atualmente podemos dizer que as obsessões estranhas de um certo diretor espanhol começaram a se centrar na esbelta figura de uma musa clássica: Penélope Cruz.
    Não por menos. Penélope é a diva não só de Almodóvar, mas de nove entre dez indivíduos do sexo masculino, e para certas mulheres também. Em Volver seu trabalho tinha sido nada menos que extraordinário, em Vicky Cristina ela roubou boa parte da projeção para ela. Se no primeiro a protagonista era sua personagem durona e sentimental, e no segundo a coadjuvante do filme de Woody é essencial para as múltiplas confusões da trama , nesse novo filme de Penélope a atenção é só pra ela, gira em torno da obsessão de um diretor por sua protagonista. Nada mais metalingüístico do que uma declaração de amor escancarada por parte de Almodovar.    Talvez a palavra para descrever este filme seja esta: a metalinguagem a que se propõem. Um diretor nos tempos atuais ganha a vida escrevendo roteiros. Seu drama é a cegueira que o atingiu em algum ponto de sua carreira e o impede de continuar dirigindo, tanto que adota um outro nome, um pseudônimo que utilizava e encarnou em seu verdadeiro ser. Mas nada de coitadinho, ele se vira muito bem sem a visão. Alias começa a projeção levando uma loiraça para a cama só com a lábia.
    A morte de um empresário o faz relembrar a história da realização de seu último filme, um fracasso de público e crítica e a figura de Penélope, atriz principal do longa casado com um magnata poderoso e obcecado por ela. Penélope e o diretor se envolvem em um tórrido caso amoroso que será a tragédia que o longe sugere. Nada de mais no roteiro, porém as vezes em Almodóvar o que basta é sua realização. As cores fortes, característica principal do diretor estão em sua força máxima, e em cada close diferente em Penélope encontra um declaração de amor não só à bela espanhola, mas à varias musas do cinema como Marilyn, Audrey (principalmente está), Grace Kelly e a lista é extensa. Nada mais lógico, dentro da estrutura ao que se propõem, pois carrega consigo um certo poetismo vide ao fato de Mateo não enxergar, então cada cena de sua lembrança é construída para entrar na memória.
    Ao final do filme suas homenagens chegam ao máximo, ao fechar a cena com a despedida de Mateo à sua amada, um abraço de 17 anos que só se completa agora. E Mateo tem a chance de finalmente montar o filme que queria realizar, mesmo cego ele recomeça o trabalho e a cena que nós vimos ser realizada  trilhões de vezes, aqui parece montada sem os erros e sem a trama ao qual ela se constituiu e o resultado é uma cena engraçadíssima que é nada mais que um homenagem ao seu próprio filme de 89. Mulheres à beira de um ataque de nervos. O filme que revelou Almodovar ao mundo.
    Bem... Em um ano de egos pequenos como um filminho de Tarantino em que ele encerra a projeção dizendo que fez a obra-prima, Almodovar homenagear a si mesmo faz parte da festa. Com certeza esse não é o trabalho mais significativo de Pedro, mas com certeza deve ser o mais pessoal, e se você não liga para nada disso, temos Penélope, que é motivo suficiente para qualquer um.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Temporda de premiações no cinema americano

          Cinéfilos de plantão a temporada de prêmios começou. O globo de Ouro é daqui alguns dias. E alguns nomes já vão pintando nas listas de apostas. A categoria Drama é um embate pesado entre Preciosa, Guerra ao terror, Amor sem escalas, Avatar e Bastardos Inglórios. Em comédia parece ficar mais fácil entre o novo cult 500 dias com ela e o bem bolado Julie & Julia. Tem It’s Complicated correndo por fora, Nine sendo o trofeu de maior projeto ambicioso e fracasso de crítica de todos os tempos (Rob Marshall resolveu mexer no 8 1/2 e transformar em comédia musical, deve ter ficado interessante mas…) e Quando beber não case como a coisa mais estranha da década no prêmio da Associação estrangeira de Hollywood.

            A premiação do Sag seguiu o mesmo caminho, e lista do Producers awards saiu esses dias. Normalmente ela não difere muito do Oscar, mas eu achei estranhíssima:

Melhor filme
Avatar – Ganha cada vez mais força. Citando o blog da Ana Maria Bahiana. Cameron tem o dom de fazer o filme certo, na hora certa.
Distrito 9 – Um ano de Fc finalmente. Eu achei fantástico, mas creio que não tem força para ganhar premios do circuito artístico.
Educação – Ele chega devagar e vai conquistando mais fãs.  O filme retrata a relação entre uma adolescente e um homem muito mais velho
Guerra ao Terror – Leiam na outra página. O iraque sem enfeite. Já nas locadoras.
Bastardos Inglórios – Fantástica fabula. Tem um textinho meu assim que saiu.
Invictus – é clint. Vou ver em breve aguardem.
Preciosa – Esse ta aí em baixo. Desde de Sundance só ganah prêmios. Até Mariah Carey
Star Trek – Estranhíssimo. Sou fã, mas por essa eu não esperava.
Up - Altas Aventuras – Lindo! Para crianças de 1 a 100 anos.
Amor sem Escalas – Queridinho da critica. George Clooney viaja e foge da vida e das relãções humanas.

                  A lista do Oscar deste ano sai mês que vem e dessa vez vai ter 10 candidatos (na verdade estão retomando uma tradição da década de 30) possivelmente vai ser bem parecida.

               Mas tudo isso é para falar que esses filmes devem invadir nossos cinemas em alguns dias ou semanas. Como eles guardam todas as pérolas para essa data fiquem atentos, também para: Onde vivem os monstros de Spike Jonze, fantasia dark for kids. A estrada, outra atuação perfeita de Viggo Mortensen, baseada numa obra perfeita de Cormac McCarthy. A Single man, Colin Forth em um papel tenso de um homem que perdeu seu amor de 16 anos, A Serious man, Os irmão Cohen judiam do protagonista desta nova obra, Uma vida interrompida, Peter Jackson parece ter errado a mão mas veremos… Dr. Parnasus e a nova loucura de Terry Gilliam e o próprio Nine para ver até onde Rob Marshall foi reinventando Fellini.

Preciosa, de Lee Daniels

preciosa 

    Este filme foi o ganhador do festival de Sundance deste ano, é um dos principais concorrentes da temporada de prêmios americanos do começo do ano e é uma história, sobretudo, fascinante.
    “Precious” é uma menina de 16 anos, negra, obesa e grávida do segundo filho. A escola faz uma expulsão educada com a menina enviando para uma escola de indivíduos excluídos onde ela pode tentar recomeçar, isso é se ela própria e os demais acreditarem nela. Contudo o pior pesadelo de “precious” não é essa vida e sim o confronto com uma mãe dominadora e terrível, interpreta da brilhantemente por Mo’nique, que parece existir somente com a função de destruir a menina por dentro.
    É um filme que trata de questões muito delicadas como analfabetismo adulto, miséria, abuso sexual, incesto, AIDS e um sofrimento crescente na qual a personagem de Gabourey se encontra ao longo dos 120 minutos de projeção. Contudo sua abordagem não é assustadora, pelo contrário o filme passa por esses caminhos sem tornar estes os temas principais do longa. Sua temática é a relação desta menina abusada com uma mãe tirânica, sua força está nesse confronto, belamente retratado de uma forma quase documental.
    Aos cinéfilos que adoram procurar coisas estranhas, além das atuações contida e explosiva das duas protagonistas. Fica marcante a presença dos coadjuvantes a começar pela professora que tira “precious” do fundo de sua auto-depreciação, passando por todas personagens da classe, cada uma desenvolvendo uma personalidade específica durante seu pouco tempo na projeção, e também destaco as participações especiais de Lenny Kravitz, como o enfermeiro do hospital e uma irreconhecível Mariah Carey como a assistente social durona. Sério. Creio que Mariah pode ser uma atriz muito melhor que a companheiras de profissão Jennifer Lopez  ou Madonna. Nada mais lógico em um filme em que o contato humano é essencial para o desenvolvimento da trama, na verdade essencial. Vale o ingresso, especialmente porque a cena final de MO’nique é de arrepiar.

Preciosa estreia dia 29 de janeiro.

domingo, 3 de janeiro de 2010

PEANUTS COMPLETO 1950-1952, Charles M. Schultz


Charles Schultz foi um garoto tímido, que era chamado de Sparky, tinha problemas com garotas e muitas inseguranças, demasiadas para sua infância. Aos 27 anos, após voltar vivo da guerra Ele começou uma das tirinhas mais famosas de nossa geração: Peanuts, ou em tradução livre Minduim. Para quem ainda não identificou por ser muito jovem eu estou falando de Charlie Brown e sua turma, e do excêntrico cachorro Snoopy. Ah... Agora sim você se lembra. A tirinha da qual Charlie Brown nasceu, começou em 1950 e a Lpm vai lançar integralmente a partir desse ano (na verdade começou em dezembro) a obra completa e bote livrinhos para isso pois a última tira que Schultz escreveu fora em 1999. Prevejo então uns 24 ou 25 encadernados de capa dura e com umas 300 páginas.
Houve um tempo em que eu ia na Bienal do livro com a referência de duas editoras para achar algo legal relacionado a quadrinhos: Devir na qual havia uma grande mesa de RPG, na qual uns caras estranhos ficavam jogando e meu maior desejo infantil era aprender a jogar e detonar com aqueles nerds, o Magic fazia muito sucesso e ficava umas menininhas uniformizadas demonstrando as cartas do jogo. E havia Panini, que jogava e creio que ainda joga, uma porrada de revistinhas em várias caixas e você tal como garimpeiro de sebo ficava procurando alguma coisa que terminasse aquela história que você tem parado no quarto.
Enfim... Os tempos mudam isso ainda ocorre provavelmente, mas temos o Quadrinhos na Cia. Trazendo Graphic Novels inéditas a solo nacional, o Tin-Tin voltou a ser publicado, Jbc traz um monte de coisa do oriente, a Conrad, compete diretamente com os dois sem se especializar em nada (Eles perderam o Sandman, estou bravo desde o ano passado), a Via Lettera Ana mal das pernas, agonizando diria...e a L&PM a melhor editora de livros de bolso, começa a se especializar em trazer tiras completas. Eles já tinham uns pockets bem legais do Dilbert, Garfield, Snoopy, etc, Trouxeram todas as tiras do Garfield em um senhor álbum, agora prometem Peanuts completo e creio que podemos ficar sossegados. Eles vão editar.
Falo isso, pois os fãs de Peanuts aqui no Brasil são inúmeros. Se você pesquisar no Orkut quantas comunidades existem sobre o Charlie Brown, você se surpreenderá, sendo que a que eu mais gosto é “Eu tenho complexo de Charlie Brown!” Bem eu também tenho! Se os mais novos só se lembram do Snoopy, essa publicação cronológica é fantástica pela riqueza que ela contém. Desde a primeira tira sentimos o porquê de ser ta revolucionária. Charlie Brown passando e Sermy comentando sobre o “bom e velho Charlie Brown”, frase que o seguirá sempre, para no último quadrinho ele completar. “Como eu o odeio”. Essa maldade no mundo das crianças é a tônica das primeiras histórias, o universo adulto retratado nas figuras de Charlie, Shermy, Paty e Violet é o que se seguirá sempre em todas as transposições. Charlie Brown usa terno e roupas estranhas, discute com as personagens assuntos referentes ao amor, se revolta, amarga seus fracassos ao mesmo tempo que come tortinhas de lama, brinca com os amigos e vai crescendo conforme o tempo passa.
Nesse volume temos os primeiro balões de pensamentos do Snoopy, o aparecimento de Schroeder (uma criação genial diga-se de passagem), a primeira aparição de Lucy ainda bebê e de seu irmão Linus. Mas escolho como o principal momento as série de tiras que Charlie fala, olhando diretamente para nós, “Eu não agüento mais!!!!!!!!!!!!!!!!”. Esses momentos é o que tornam a tira um clássico. Dentro dos quadrinhos o menino Charlie Brown é o melhor representante da teoria mal estar na modernidade que começa em Baudelaire e ainda é visitada por Zygmaunt Baumann. Um dos motivos de sua popularidade é essa depressão constante ao qual ele se lança e que é tão similar ao que se realmente sente nesse mundo pós-moderno. O mais interessante é ver como a tirinha vai tomando a cara desde os primeiros quadrinhos em que Cherry e Paty apareciam mais, a partir da 24ª tirinha é que começam a se centralizar na figura de Charlie, já ao final do volume notamos como as crianças cresceram um pouco, outros personagens foram introduzidos e uma certa constância nas pequenas histórias começa a transparecer e dar uma personalidade a estes. Exemplar obrigatório na casa de qualquer fã de quadrinhos.