sexta-feira, 30 de julho de 2010

FLIP 2010 E NOVO BLOG

 

Pessoas que me acompanham anônimas ou seguidoras, estrearei um novo blog na semana que vem. Para meus fãs anonimos digo para não ficarem preocupados ainda jogarei coisas para transmigrar a alma conforme o tempo (sempre ele) me permitir, mas peço que fiquem ligados também no blog O Espanador:

Este blog é uma união minha,  do mano Kalebe do blog Extremamente Alto  e das meninas, Juliana e Luani, do blog Coletivo Lhama.

Começaremos a loucura do blog coletivo cobrindo a Flip que é um dos maiores espetáculos literários do nosso país e convido a todos a nos lerem lá também.

Um abraço e obrigado a todo mundo que me atura.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

HOTEL NOVO MUNDO, Ivana Arruda Leite

capa_hotel_novo_mundo Me ajoelhei no último banco e pedi que Deus tivesse piedade das menininhas loiras e pobres que tem defeito no coração e dos menininhos negros e pobres que precisam tirar um rim; que Ele desse forças as mães que dormem encolhidas velando  por seus filhos pobres e doentes; que cuidasse com carinhos dos veados que adoecessem por amor (…) finalmente que a graça do Espírito Santo recaia sobre as prostitutas e ex-prostitutas, para que entrem no reino do céu.

 

Esse trecho demonstra a curiosa combinação de bom humor, ironia, um naturalismo brutal e realidade social que permeiam as menos de 120 páginas desse pequeno e singular romance.

Hotel Novo Mundo narra a história de uma mulher que foge do Rio de Janeiro, do marido rico em uma atitude impulsiva, ela acaba no hotel que dá nome ao livro e encontra todos os personagens singulares que são a alma do livro. Renata, a protagonista e o primeiro personagem brilhante do romance, em poucas linhas aparece como uma ricaça frustrada, traída e brava, mas que já fora uma prostituta e está fugindo da vida basicamente com a roupa do corpo. Quanto mais nos vamos entrando a vida dessa mulher mais a antítese social vai aparecendo.

Fazia muito tempo que eu não via um livro com um tom tão naturalista quanto este e tão agradável ao mesmo tempo. Normalmente a linha dos romances à la Zola, gostam de retratar todos os conflitos sociais, problematizar todos os ângulos e centralizar o foco em alguma ideia específica, sem deixar. O romance de Ivana não dá nenhuma chave, não tem nenhuma ideia específica e apesar de todos os personagens terem vários problemas, o contexto todo é muito light.

Vamos ver os demais personagens: César, o marido-galinha, galã e oportunista. Divino um sujeito baixinho e careca que se aproxima da protagonista. Jurema, tem uma paixão platônica não correspondida por Divino desde criança. Ritinha, menina sapeca que está com problema cardíaco e tem convulsões. Leão, um pianista de Boate gente boa. Cecília, filha de Leão que o conheceu com 8 anos e namora uma psicóloga. Zema, estilista gay com o vírus da HIV, seu namorado Lauro que é pai de santo, Genésia a dona do Hotel e a lista continua… Todos personagens singulares com seus dramas individuais, todos narrados com um humor muito irônico da narradora mas que se permite a insights de reflexão nas entrelinhas dos causos.

O livro se permite a narrar uma semana na vida dessa personagem até ele decidir iniciar a nova vida dela. Podemos até dizer a maioria das subtramas não termina, mas esse é exatamente o propósito que parece dizer à la Nelson Rodrigues que a vida do que jeito que ela é. Em um momento em que temos muita prepotência nas Letras Nacionais é muito bom ver um romance simples e direto, muito agradável de se ler e que parece ter alguma coisa escondida que ainda não revelou a mim, mas posso dizer que é muito interessante e engraçado.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

VERÃO, Coetzee, J. M.

verão Não senti nenhum prazer em ver aquela perplexidade, aquele desamparo. Eu não gostava da presença dele no salão. Era como se estivesse nu: um homem dançando nu, que não sabia dançar. Eu queria gritar com ele. Queria bater nele. Queria chorar.
[Silêncio]
Não era essa a história que o senhor queria ouvir, não é?(…)Bom não estou dando o seu romance, estou dando a verdade. Talvez verdade demais. Talvez tanta verdade que não haja espaço para isso em seu livro. Não sei. Não me interessa.

A verdade é a busca que o narrador Vincent (? seria um narrador?) faz ao entrevistar 5 pessoas distintas para compreender um pouco da vida John Coetzee na década de 70, antes de se tornar um escritor famoso. Vincent nunca encontrou Coetzee pessoalmente e agora que está morto os relatos que transcreve são seu único om o enigmático escritor. Sim meu caro leitor, você não leu errado ou este crítico de blog tomou substâncias alucinógenas hoje, John Coetzee… no novo livro escrito por John Coetzee. Para quem é marinheiro de primeira viagem pode estranhar, mas quem conhece a obra desse escritor fantástico sabe que essa é ponta iceberg.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

CACHALOTE, – Rafael Coutinho & Daniel Galera

 

cachalote_Ok.indd “Minha vida acabou. Eu não sou mais nada. A gente para de prestar atenção um instante, e de repente está sozinho (…)Por que ele fez isso? Aquele quarto de hotel apavorante, o toque de telefone… ele disse que me amava”

 

 

O toque de melancolia é que resta ao final da leitura do quadrinho Cachalote, projeto épico que gerou um expectativa grande por reunir um romancista promissor, Daniel Galera do estranho Cordilheira, e o primeiro trabalho de mais fôlego de Rafael Coutinho, que nada mais é do que o filho de Laerte. O livro seria um dos grandes lançamentos do Quadrinhos na Cia, selo da Cia. das letras, na Flip de 2009 Rafael já divulgava que estava quase pronto, três meses depois a Cia. colocou a primeira data de lançamento que furou e só no meio deste mês após várias desventuras o livro chegou as livrarias. Acho que fazia tempo que não via uma badalação tão grande por um quadrinho nacional e devo dizer que é muito interessante, ainda distante de um Jimmy Corrigan, Sandman ou qualquer Will Eisner, mas fascinante.

A trama de Cachalote gira em torno de cinco histórias envolvendo cinco homens em situações distintas: 1 - Um ator de ação chinês se torna o principal suspeito da morte do amigo. 2 – Um escultor durão aceita se tonar ator de um filme sobre um escultor durão. 3 – Um jovem que adora amarrar suas parceiras sexuais encontra o amo em um jovem muito frágil como cristal, literalmente como cristal. 4 – Um executivo é expulso de casa para Paris pelo tio por ter dormido com a mulher dele. 5 – Um casal divorciado conversa nas vias públicas sobre depressão, vida que continua entres outras coisas. Como essas histórias se ligam? Essa é realmente um boa pergunta! O traço naturalista de Rafael é ótimo, as histórias quando analisadas separadamente tem ótimos personagens, ainda assim existe uma sensação de gratuidade dentro da história que não se separa do graphic, porque as linhas que as unem são muito finas e sutis (ou as vezes inexistentes!)

Podemos começar pelo óbvio: A busca por entender em como se foi parar nessa situação, se encaixa no caso do chinês, do executivo, do escultor, mas não encaixa no jovem que está num relacionamento amoroso e no pai divorciado que só quer seguir com a vida. Podemos liga-las pela relação amorosa desenvolvidas no escultor pela rejeição, no jovem pela paixão sexual, no casal divorciado pela relação conjugal, em certo ponto na história do chinês que supõem uma relação homoerótica nunca desenvolvida e no executivo exatamente pela falta desta. Essas ligações são bem tênues e nunca se encaixam totalmente, mas existe um fato no livro que pode ser a chave do enigma: Há uma sexta história que abre a graphic e a fecha, a qual vou narrar brevemente pois parece uma fábula:

Uma senhora muito idosa está grávida e pula na piscina para nadar, parece que vai parir a criança quando um cachalote (para que não sabe, um cachalote é maior baleia do mundo, Moby Dick era uma cachalote albina) aprece na sua piscina!. Ela o acaricia. No final da história, ela e a criança estão na praia, a criança brinca com um cachalote de brinquedo, quando subitamente ela levanta, abraça a senhora se dirige ao mar e não volta mais.

A imagem do Cachalote aparece outras vezes esparsas no quadrinho, contudo essa fabula que parece ser uma chave interpretativa que mostra muito dos ganhos e perdas na vida do ser humano, e as cinco histórias parecem dialogar com perdas e ganhos a sua maneira, mais especificamente no âmbito familiar. Porém essa é só uma hipótese de interpretação, a primeira página do quadrinho remete as últimas da história, o que é velha da cíclico e para convidar o leitor a uma segunda leitura. Eu vou esperar digerir a primeira, depois eu faço a segunda e vejo se alguma coisa mudou. Fato é que tempo não será perdido na leitura deste quadrinho, s combinações possíveis são várias e a melancólica de suas últimas páginas o fazem ficar imaginando o que esta escondido nas entrelinhas.

domingo, 4 de julho de 2010

VOZES DO SOTÃO, AS – Paulo Rodrigues

vozes_do_sotao “Ela me arrancava dento de mim e desviava minha atenção para uma névoa densa que se espalhava pelo quintal (…) Embora calmo, não dava por termina a contenda, pois me sentia poderoso e forte depois de um embate como aquele. Forte o bastante para esfolar um vira-lata, ou para acorrentar no porão da casa o miserável corpanzil de uma negra velha”

O trecho acima demonstra a tensão da narrativa deste trabalho curto e preciso, Vozes do Sótão, é um dos melhores livros lançados atualmente. A história centra-se na figura de Damiano, uma pessoa que desde pequeno escuta uma voz em sua cabeça que é a sua maior companheira e ainda o faz fazer coisas que ele nunca revela. O livro é dividido em duas partes, a primeira “Estrume” é a mais fragmentada em que ele vive todas as épocas ao mesmo tempo, a segunda tem um desenrolar fluído, já que se centra em uma parte específica de sua vida, quando viveu no Uruguai. O livro exige bastante do leitor para se acostumar com fluxo de consciência que é desenvolvido, entre idas e vindas, ao longo da jornada.

Uma das primeiras coisas que notamos é que haverá auxílio para entender a vida de Damiano e do ele está falando, representado por um outro narrador (sim. esse livro é moderno e tem dois narradores) alguém que está investigando os cadernos de Damiano e entra a todo momento da história para explicar o que está acontecendo objetivamente. Essa segunda voz é genial, pois permite que se  desenvolva a personagem de Damiano, na voz do próprio, e ao mesmo tempo resume toda a vida deste em poucos parágrafos, fato que o próprio Damiano diz ser incapaz de fazer no começo do livro por não ter objetividade.

Segunda coisa é observar como ele é um personagem totalmente destruído pela família, a mãe o chamava de estrume, o irmão o odiava, não tinha amigos e sua única paz era se esconder no sótão onde começa a ouvir a voz e guardar bugigangas de um passado melhor. Para escapar da família ele casa com um moça que será sua perdição, traindo-o constantemente e brincando com seus sentimentos, até ele dar um basta na situação e se mudar para o Uruguai, onde começa uma segunda parte ainda mais intensa e um pouco mais linear.

A voz narrativa de Damiano cria muita tensão em suas linhas porque a violência de suas palavras não param, em todo momento ele evoca mortes, palavrões e sentimentos reprimidos dentro de si. Imagens fortes como a evocada no trecho pululam no texto. Contudo quando analisada de maneira linear, a historia de Damiano acaba sendo a historia de uma vítima constante, em nenhum momento ele evoca as maldades que comete, (será que cometeu?) nem mesmo a voz do segundo narrador explicita alguma coisa referente a alguma maldade adormecida em Damiano, ela só se limita a dizer que fez “coisas horríveis”. Essas insinuações nos fazem cogitar diversas coisas desde a veracidade do relato, até preencher pontos da história que estão obscuras com nossas próprias ideias.

Dentro do que é mostrado pelo texto é certo que o personagem é um indivíduo castrado emocionalmente, que sofre males de pessoas que querem e vão se aproveitar dele. Tudo o mais são artimanhas do texto que operam de forma subliminar em nossas cabeças, como uma voz dentro de nossas cabeças.

sábado, 3 de julho de 2010

DEIXA ELA ENTRAR – O REMAKE

Quem costuma acompanhar esse pequeno diário bem humorado sabe da comoção que tive ao assistir, Deixa ela entrar. Um filme sueco fantástico, possivelmente o melhor filme sobre vampiros feito desde o Nosferatu do Murnau. Enfim como ele é sueco e o mercado americano tem preguiça de ler, eis que saíra a refilmagem (que original), o trailer saiu ontem e segue logo abaixo. Ao que parece será uma cópia frame a frame. Necessário? Não. Mas o próprio Michel Hanneke refilmou um filme seu antigo para ele ter mais visibilidade, e está versão possivelmente terá.

 

A história é muita boa, um menino sem amigos uma amizade-amorosa com sua nova vizinha, o detalhe que é uma vampira que se alimenta de gente. A consolação da versão americana é que o diretor, Matta Reeves, é o mesmo de Cloverfield, filme que não dava nada mas provou ser bem interessante quando assisti e que a atriz que faz a vampirinha meiga (e assustadora) é Chloe ao qual eu rasguei seda no post abaixo deste.

Se você tem como achar em sua locadora ou baixar pela internet segue também o trailer do filme original, para mim já é um clássico obrigatório da sétima arte.