segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A LITERATURA AMERICANA



Recentemente estava recusando a literatura americana, pois, em questões de gosto pessoal sempre preferi a britânica, e recentemente os yankes andam produzindo policiais demais para pouca qualidade histórica. Lógico, que toda a concepção que eu formulo vai pro espaço em algum momento, depois de uma fase africana e outra latino-americana, eis que resolvo ler alguma coisa 100% americana, no caso a minha primeira investida no começo do ano foi com o Homem Comum do Philip Roth do qual não passei da página 50. Uma coisa eu tive que admitir: que o thriller policial estava completamente afastado desse romance chatíssimo, mas creio que eu entrei no espírito do livro, uma vez que muita gente gostou. Então conversando com meus amigos, ou melhor dizendo, discutindo com meus amigos resolvi dar uma segunda chance a Sr. Roth recentemente como o novo livro O fantasma sai de cena, e a experiência foi bem mais enriquecedora e e prazerosa, e depois li o Homem no escuro do Paul Auster, do qual gostei mais ainda.
Conto toda a historinha para que entendam que a qualidade dos textos me surpreendeu, é lógico que segundo meus conhecimentos literários, eles SÃO os maiores escritores em terras norte-americanas no presente momento, mas isso nem sempre é verdade, e acabei chegando a algumas conclusões a respeito dos autores e suas respectivas obras nas quais discorro um pouco:
Fantasma sai de cena - Um antigo personagens-escritor de Roth (isso merece uma explicação, as vezes Roth utiliza este heterônimo personagens como autor dos livros, extremamente original, mas não vou falar sobre isso pois não li esses romances... ainda) Sr. Larry, sai de seu recanto na Inglaterra para fazer um cirurgia na uretra no país natal EUA, a partir daí seu antigo isolamento se contrasta com a volta a um EUA pós 11/09, o reencontro amoroso na imagem de uma bela escritora jovem, o reencontro com o passado na imagem de um antigo autor já falecido, que ele chegou a conhecer e admirar, e por fim com o reencontro com uma antiga amiga que está em estado de câncer avançado completamente deteriorada.
Extremamente melancólico. O livro parece ser chato. Mas não é. Esses choques são essenciais para uma pessoa que passou um bom tempo afastado da vida política, amorosa e pessoal. Larry passou completamente afastado do imaginário da vida por assim dizer, e sua volta é como redescobrir o país que um dia ele abandonou.
Na parte da política a escritora e seu marido representam o partidário anti-Bush, recorrente nos Eua, discorrem a respeito da falta de liberdade da Nação, entre outras coisas.
Na parte pessoal, seu escritor preferido está para ser deflagrado em meio a um adultério passado, que irá manchar sua imagem, sua concepção dos fatos históricos do passado e sua concepção da situação atual do presente entram em crise a partir disso.
Agora na parte amorosa é que a pancada soa mais pesada. Além da alegoria representada pela disfunção urétil (a semi-castração), temos o desejo reconfigurado na esposa do escritor e o redescobrimento do amor na figura da já debilitada amiga da infância, tudo isso em espiral para ver até onde esse Ricardo Reis moderno pode aguentar sem se envolver.
O Homem no escuro é uma salada, contudo é muito bem construída. O personagem principal August, basicamente faz uma coisa o livro inteiro: Fica se revirando na cama durante a noite. Tal qual uma tela de cinema ele imagina uma história em EUA alternativo em que não houve 11/09, mas em que há uma Guerra cívil (as causas dessas são bem realistas e contém uma fina ironia), o personagem dessa história é lançado no meio da guerra e aos poucos ele vai descobrindo que tem matar o homem que está sonhando isso (louco não?), mas esse é um dos fios condutores. August ainda fica atento aos personagens semi-adormecidos aos seu redor, foge das lembrança da falecida esposa, e se concentra especificamente nas sessões de cinema clássico que tem com a neta durante as tardes, outra evocação a sétima arte. Na casa, com ele, moram além da neta sua filha e todos os personagens estão imersos em seu escuridão particular. A filha sofre com a separação recente e tem problemas para termina sua biografai de uma poetiza esquecida. A neta se fecha dentro dos filmes pois o ex-namorado morreu na guerra o Iraque e na frente das câmeras, o que ela não pode esquecer. O mais tocante no tudo é a cena final em que August não consegue afastar passado e recorda todo o seu caso de amor com mulher, deixando claro a falta que ela faz a ele.
Auster e Roth em termos socio-literários, parecem estar criando fábulas em que a matéria prima das críticas, é a condição atual dos EUA, não só pelos ataques terroristas, mas pela política adotada, pelo governo Bush, e pelos traumas recentes desencadeados. Os dois livros alcançam a sensibilidade do leitor o primeiro pela melancolia subliminar, o segundo pela fábula transvestida de crítica. Duas ótimas leituras da literatura do novo Milênio

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