domingo, 28 de agosto de 2011

Árvore da Vida – Terrence Mallick

 

tree of life Ao contrário do que me aconteceu na resenha abaixo, Árvore da Vida cumpriu muitas das expectativas que geraram em torno dele sendo a principal, o de ser um filme que você ou vai amar ou odiar. Na sessão de cinema em que estava muita gente reclamou que quase dormiu, não entendeu e achou pretencioso. Assim como muita gente embarcou na viagem sensorial e, com certeza, espiritual.

Esse ano alias, tem muitos filmes preocupados em abordar a questão da crença e do pós-vida. É uma tendência que já é observada há algum tempo, sendo que a onda de espiritismo que se iniciou na década de 90 ainda não acabou e tem cada vez mais adeptos: Esse ano cinematográficos tivemos no cinema quase simultaneamente Além da Vida, Biutiful e Tio Boomie. O primeiro carregava três histórias que se intercruzam a respeito da vida após a morte, contudo o atrativo era ver como Clint lidava com esse elemento sobrenatural e apesar de ser um bom filme ele derrapa bastante. O segundo tinha no personagem de Javier Barden um diálogos como os mortos que aumentava seu drama e o terceiro é uma experiência muito louca sobre reencarnação e crenças asiáticas. Mas podemos colocar todos na mesma tigela pelo fato da temática no fundo ser “a vida após a morte” que pode resumir muitas das nossas crenças em divindades. Agora o ponto irônico, é que o filme de Mallick é o mais “cristão” dessa leva entretanto, o que na minha opinião o torna genial é que não há nada remetendo a essa temática “de vida após a morte”, e sim como nós seres humanos percebemos o mundo.

A percepção da natureza como divindade é algo que assombra a obra do cineasta americano. Nesse filme há uma inversão de pensamento ao distinguir a natureza real, como algo frio e mecânico, da graça, algo que poderíamos ver como um ponto de vista que quer encontrar algo dentro da natureza para se importar. Esse ponto já é apresentado no começo do filme e por essa caminho de luta entre essas duas instâncias é que os personagens vão se mover até a uma conclusão simbólica.

Esse é o tipo de filme para se ver no cinema pelas imagens e som, mas não se engane é um filme bem lento então esteja preparado. A estrutura apesar de parecer estranha é bem simples podendo ser resumida da seguinte forma: 1 – A família recebe a notícia de que um dos filhos morreu da década de 70, e passa pelo luto e descrença na vida a partir daí 2 – Jack (Sean Penn) é um homem amargurado do novo milênio relembrando no dias de hoje como a morte do irmão 3 – Em 15 minutos O filme mostra a evolução do Universo desde o Big bang até a extinção dos dinossauros 4 – A evolução da família na década 50-60 cujo o ápice é a tomada de consciência na vida de Jack, com 13 nos, flertando a vida tanto com a bondade e a maldade. 5 – Todas as gerações se encontram numa onírica que encerra o filme. Mas a partir daí eu consigo resumir 2001 da mesma maneira. O interessante é viajar e tem que Viajar.

As interpretações da história são várias, podemos afirmar que no fundo é a superação do luto numa família normal. Podemos dizer que a narração que questiona tanto Deus, no caso o “Father”, ele não aparece em nenhum momento de milagre a não ser se comparado a grande força criadora do Universo. Creio que o ponto seja as coisas que criamos para explicara Natureza em si, e não ve-la como um ambiente hostil e mecânico que nos governa sem sentimento. A Parte em que dinossauros aparecem pode ilustrar isso com mais perfeição e mais ainda na frase mais clara do filme dita pela Mãe: “Sem amor sua vida passa rapidamente” nesse ponto ele deixa sua câmera pender para o caminho da graça, que na visão do cineasta faz completo sentido.

Não creio que seja um filme propaganda como é Nosso Lar, tanto porque há ideias demasiadamente modernas para ser aceitas pelos teólogos da Igreja. Entretanto arrisco ainda uma interpretação perigosa, toda a história do filme é uma reinterpretação moderna da bíblia: Está tudo lá A criação, o sacrifício do Filho, a briga do homem (Jack, o nome mais normal possível dentro da língua inglesa) com seu Pai (que não tem nome) e até mesmo o fim do mundo dentro de um sonho. Só o fato dos personagens não terem um nome próprio já remete a alegoria, assim como o Anticristo, mas é algo que ainda preciso desenvolver melhor, entretanto~nãos e enganem eu sou agnóstico mas não ignoro os significados simbólicos e humanos que a Bíblia tem na cultura ocidental.

Ainda acho que o melhor filme do diretor é Além da Linha Vermelha por ser mais redondo e profundo, concordo com as interpretações negativas de que o filme só parece ter um complexidade mas não tem, contudo não acho que isso seja um ponto negativo, alias fiquei bem surpreso por ele ser mais “fácil” do que eu esperava. Acho que o Sean Penn poderia ser cortado do filme facilmente, pois sua parte é meio inútil, mas no todo achei uma experiência realmente muito boa e diferente, em tempos em que o mundo é refletido como um lugar sombrio (e é mesmo) com maestria, são poucos os filmes que falam o contrário sem cair na pieguice.

Recomendo mas tem que ter mente aberta.

NOTA: 9/10

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Melancolia – Lars Von Trier

 

MELANCOLIA Quando Lars Von Trier apresentou seu novo filme em cannes desse ao, o que sempre foi um grande evento dentro da Riviera se tornou no maior evento evento dos últimos anos quando na conferência com os jornalistas o fantástico senso de humor, ou falta de, entrou em cena nas declarações exaltando Hitler e ao nazismo. Com certeza fazer piadas desse calibre no Brasil, na Argentina poderiam sair um pouco menos ofensivas, mas na Europa em especial na França traumatizada pela “ajuda” aos alemães na guerra e com um diretor judeu, iria dar merda. Lars foi expulso, se disse depressão e anunciou um pornô. THE SHOW-MAN!

E eis que durante essa época eu fiquei me indagando que as pessoas falavam mais disso do que do filme em si. Estava frustrado com a falta de informações do filme em si, mas na pré-estréia de ontem eu entendi que o dinamarquês não dá ponto sem nó. Todo o teatro do Reich tentou e conseguiu fazer uma coisa bem simples, esconder que o filme É bem ruim.

Olhem eu sou o cara que foi a defesa do Anticristo, que apesar de achar DogVille e Dançando no Escuro um tanto quanto extensos, não tirava estrelas pelas histórias bem construídas dos filmes, especialmente pelo seu final. Que por mais de não simpatizar com um diretor que se considera “o melhor diretor do mundo”, não deixava isso afetar minhas críticas aos filmes. Contudo tenho que admitir não dá para engolir Melancolia, onde todas as falhas do cineasta emergem para uma projeção que além de fraca é chata.

O filme começa com belas imagens em câmera lenta, a ópera de Wagner estremecendo a sala de projeção. Aquela grandiloqüência que já virou marca do diretor. Ótima abertura, um tanto surreal e confusa. você se pergunta o porquê mas assim como no Anticristo ela deve ser explicada mais pra frente. Primeira parte: JUSTINE. O casamento de Justine (Kristen Dunst) e a festa organizada pela família que incluem uma irmã obcecada por controle (Charlotte Gainsbourg); Um noivo submisso; Um chefe filho-da-puta; uma mãe niilista. um pai bonachão e um cunhado podre de rico que só pensa em dinheiro. Uma família pronta para tornara noite um inferno, cheio de personagens planos que servem para banalizar a instituição do casamento. Até aí temos um filme nota 7, mas a noiva começa a pirar no potato e o casamento bate incríveis recordes de separação. Esquisito.

Chegamos a parte dois, alias eu não entendi porque o filme foi dividido em duas partes, mas enfim parte dois CLAIRE. E aí amigo, tudo saí fora dos trilhos e filme descarrilha para o arrastamento da história, a FC mais fajuta já contada e o pior de tudo é que a história é óbvia, insuportavelmente óbvia e ainda assim é explicada com todas as palavras para que até um recém nascido-entenda o que Lars von Trier quer dizer. No enredo algum tempo depois Justine está num estado catatônico, que podíamos dizer que é devido a uma (adivinhem?) melancolia com relação ao mundo, ao mesmo tempo foi descoberto um planeta escondido atrás do sol (??) que está em rota de colisão ou não (??????) com a Terra. Você decide Tony Ramos pergunta. Justine acha que a terra é má e vai fazer kabum, Claire não quer acreditar nisso. Ah, sim… o nome do planeta: Melancolia.

A primeira parte e a segunda se juntam de uma maneira…original, mas bem fraca da maneira como é apresentada. As pessoas estarão certas ao afirmar que não É uma FC, e que melancolia é uma metáfora do mal que vai destruir a terra. O que está certo mas também é fato que o planeta existe dentro do filme e este se propõem a ser uma FC, mas ao contrário de Tarkovsky que criou filmes extremamente filosóficos respeitando o gênero (Solaris, Stalker, O Sacrifício) Von Trier esquece do gênero e se foca no medo da personagem de Claire, contudo essa parte destoa tanto da primeira e se alonga tanto que o que era para ser a terrível dor perante o abismo se transforma numa queda que nunca chega ao fundo se tornando maçante. E a grande mensagem chocante de Lars, que nunca falta, também se perde pois se formos resumir poderia ser assim: Um filme com uma mensagem claramente niilista e ateia, que se pauta numa explicação mística. É difícil engolir.

Kristen Dunst está ótima. É o único papel com profundidade do filme, o resto são personagens bem simples que querem mostrar como o mundo é mal. Contudo mesmo o roteiro sendo simples, mesmo a proposta sendo a princípio original e a atriz estar bem no papel ninguém pode brilhar mais que Von Trier. Então temos primeiro os adornos dispensáveis, a câmera lenta, a divisão em partes, as cenas belas que não se encaixam mas são bonitas (Kristen Dunst nua sendo banhada pela luz azul do planeta chegando, linda… e dispensável. Mostra o óbvio novamente). A gratuidade de torturar a personagem de Dunst. Depois temos as cenas do cotidiano dispensáveis que atrasam o filme e demonstram como Lars realmente não tem ritmo para contar uma história “normal” pois essa é sua história mais normal.

E o calcanhar de Aquiles é a simplicidade da trama, se em Dançando ninguém imagina que no final Bjork é enforcada, em Dogville vai haver uma chacina ou todas as cenas fortes de Anticristo, aqui não há nada. A mensagem de desesperança não é uma coisa chocante e sem o choque o cinema de Von Trier é reduzido ao excesso de sua mão pesada na cotação da historia e aí todos as outras falhas emergem e vira uma meleca.

Foi a grande decepção do ano até o momento. Só salvo a Kristen Dunst e a cena final. que é linda do ponto de vista visual e encaixa com a proposta do roteiro, mas de novo. É ÓBVIO. É IRRITANTEMENTE OBVIA. Agora vem o pornô. Felação em close em câmera lenta… Bem pode ser interessante.

NOTA: 3/10