domingo, 24 de abril de 2011

Cópia Fiel - Abbas Kiarostami

 

copia fiel Quando um diretor cult faz algo totalmente diferente acaba dividindo opiniões. O diretor iraniano sempre foi conhecido por fazer um cinema muito mais próximo da realidade sem perder as noções poéticas da sétima arte, muito provavelmente porque por viver em um país em que a política é sempre presente a obra de Kiarostami acabou pendendo para este lado, e eis que em sua primeira produção européia ele faz algo que escapa das armadilhas do óbvio e entrega uma obra que demora a cair no gosto mas é igualmente fascinante.

Falo que demora a cair no gosto pois saí meio atordoado da seção sobre o que acabara de ver em tela. Não é um filme social, certamente passa bem longe da realidade mas tem muita sensibilidade dentro de uma situação comum: Um escritor de arte inglês (William Shimell) encontra uma mulher francesa que é sua fã (Juliette Binoche) num vilarejo italiano para um tarde com ela antes de voltar a sua casa na Inglaterra. O filme lembra muito o Antes do Amanhecer com planos longos seguindo os personagens em sua conversa por uma cidade histórica italiana. O tema da conversa é teórico da arte do que sentimental. O personagem de William Simmell escreveu um livro que complica a questão da cópia na antiguidade, e que seu valor com cópia  por vezes é até superior a da original. A personagem de Binoche concorda em parte com essa teoria mas tem suas ressalvas sempre trazendo a discussão para um alegoria da realidade.

Para exemplificar os dois pontos deixe-me, brevemente, expor duas cenas:

William Shimell fala em certo ponto que as características fundamentais da obra de arte são originalidade, o artesanato e técnica empregadas. As arvores vistas no caminho a cidade tinham todas as características apresentadas mas ninguém as considera obra de arte, agora se uma das árvores estivesse dentro de uma galeria seriam “analisadas”. Esse discurso lembra muito os grandes teóricos da arte como Gombrich, Peter Bruguel entre outros. Eu achei interessantíssimo, mas aposto que muita gente pode achar maçante.

Juliette Binoche concorda com o discurso maçante do escritor inglês e lhe dá várias cortadas em dado momento ela se irrita com a visão simplificada que ele tenta vender a ela, e diz que tudo isso era indo nos livros e na teoria, mas na vida real não se pode olhar as coisas com tamanha simplicidade, a vida real é complicada. O ponto de vista de uma pessoa normal. Dito isso os dois vão expondo seus pontos de vista em relação á cópia, Shimell acha tão importante quanto a original. Binoche acha um belo trabalho, mas o original é melhor.

Seria um filme teórico se o diretor não tivesse a genial ideia de fazer o espectador sentir essa fronteira obscura da cópia/original quando numa certa cena de café eles passam de totais desconhecidos há marido e mulher, sem qualquer aviso ou explicação do diretor. Pior que isso, um casal em crise que vai se aprofundando cada vez mais nos estranho mundo do relacionamento homem e mulher e aí os dois atores dão um show.

Depois você fica pensando se eles não eram desde o início um casal, mas há diversas cenas que comprovam o estranhamento dos dois e do nada eles começam a interpretar um casal, mais pra frente esse relacionamento ainda sofre outra mudança de intensidade e a melhor palavra para descrever essa mudança é que elas são estranhas. Então diretor como Abbas com seus fãs acostumados com um estilo “realista” ainda que imaginativo, se deparam com um filme que está muito mais ligado a uma estética Lynchiana do que tudo que já fora feito pelo diretor, e eu fico vendo gente que amou e achou genial (EU!) e pessoas que odiaram do fundo do coração, um divisor de opiniões mas que é impossível ficar parcial em relação a ele.

nota: 9/10

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