domingo, 1 de fevereiro de 2009

Clássicos: Os Sete Samurais

Kurosawa foi acusado em seu próprio país, o Japão, de ter se "ocidentalizado". Sendo extremamente ignorante para com o termo, eu me perguntaria o que diabos isso significa? Creio que as diferenças cruciais entre o cinema de um país X e o de país um Y se reflete pela história cultural destes, mas quando colocamos a questão em um termo tão amplo como ocidente e oriente, estamos relativizando demais um arte tão complexa.
Lógico que eu não ignorante e sei que essas críticas, eram tentativas infundadas de denegrir a imagem do mais popular dos cineastas japoneses, em termos de importância cultural e internacional somente Ozu pode ser comparado a Kurosawa. E grande obra-prima para se conhecer o diretor foi remasterizada no mês passado e lançada em dvd: Os Sete samurais.
Não é propaganda para a Europa filmes, que lança muita porcaria alias, mas o filme é muito bom, quisera eu que metade dos clássicos do cinema mundial tivessem uma edição de luxo acessível assim, o que não é o caso.
Este épico de 1954, em seus 202 vibrantes minutos, lança todos os recursos que ele utilizaria posteriormente em todos os seus grandes trabalhos, a história é bem simples e tem uma complexidade visual imagética, pois curiosamente Akira queria ser um pintor na adolescência, um fato do destino o fez exprimir toda sua visão pictórica em cenas de batalhas cuidadosamente coreografadas e planos abertos de um Japão Feudal muito presente na cultura nipônica.
A imagem de abertura já põem em ação os elementos motrizes da trama, uma corda de vilões desce as montanhas discutindo quando saquearão o vilarejo abaixo, um agricultor escuta o plano dos vilões de voltarem no fim da colheita para saquear a aldeia, como sempre acontece, mas dessa vez os aldeões decidem resistir e mandam um pequeno grupo ao vilarejo próximo contratar um samurai para defendê-los de quarenta ladrões. Após algumas peripécias o grupo encontra um mestre samurai disposto a defendê-los e a recrutar outros dispostos. As personalidades dos demais são muito bem construídas pelo diretor que explora o choque entre elas: Temos um aprendiz disposto a ser treinado mas no impulso da juventude, o ex-parceiro do mestre, um samurai que só pensa em aperfeiçoar sua técnica, uma aventureiro alegre e um outro mais comediante que guerreiro, mas o mais extraordinário dos personagens é a figura de Kikuchiko, um homem que não se sabe bem se é um vilão, um herói, ou anti-herói, impulsivo mas honesto, poderia um ladrão ou um samurai já decadente, seus atos vão dos mais engraçados por desleixo, até seu momento mais heróico e por consequência o ápice do filme.
Kurosawa consegue atingir a perfeição, lidando com imagens de batalha violentas e um drama cotidiano entre elas, um exemplo está na cena do moinho em chamas em que uma aldeã sai carregando filho e entrega a Kikuchiko antes de morrer, ele emocionado fala " Essa criança sou eu, aconteceu a mesma coisa comigo".
Um talento assim não deveria ser esnobado em seu próprio país, mas foi o que aconteceu na década de 70, ele faliu e só conseguia fazer filmes com a ajuda de seus amigos de Hollywood, conseguindo produzir Ran, Kagemusha, Sonhos, Rapsódia em Agosto, o que acabou vindo para o bem.
Irônico é saber que seus filmes acabaram influenciando o western americano dos anos 80, mas ninguém diz que estes foram orientalizados. Não dá para entender, ?

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