terça-feira, 9 de junho de 2009

RETALHOS, Craig Thompson



Poderia um quadrinho ser complexo o suficiente e emocionante o bastante, para ficar na memória tempo bastante para atrair até aqueles que não gostam do gênero? Sim atualmente isso é muito fácil! Principalmente com programas que resolveram ver as burradas da nossa Secretaria de Educação e apresentar uma obra por programa, dito jornalístico, que não deveria ser adequada para o público ao qual ela foi destinada pelo governo.
É a hora da digressão, e eu nem cheguei no assunto principal: mandar o Dez na área, um quadrinho adulto de sátira de futebol para a 2ª série/ 3° ano é burrice! Os jornais começarem caça as bruxas é esperado, tanto quanto quando eles fazem merda. Triste fim do Pequeno menino ostra, é um livro de poesia lindo, para o público juvenil, principalmente por que é do Tim Burton e tem aquele apego e tudo mais.... mas, tudo bem! é bom discutir o que faz bem para a escola e o que não faz! Agora sentar o pau em Um contrato para Deus, é asneira!!! é forte sim! é para o público adolescente? Pode ser, eu acho que não .Tem que ter na escola? TEM! Esse é marco histórico da Hq's como querem recolher das escolas e formar acervo de qualidade? É tirar os livros do Zola, por que tem descrições naturalistas de sexo! Alias Capitães da Areia é mais forte que o Dez na área e se tem que ler no ensino fundamental.
Em todo caso, o que os jornais fazem é um preconceito enorme com os quadrinhos e é bom porque assim haverá mais discussão e mais gente vai se interessar!
Mas venho por meio desta falar deste quadrinho ao lado, lançado mês passado aqui no Brasil, é uma das melhores obras em quadrinhos que eu li nos últimos anos, tem uma sensibilidade incrível, e é muito bem desenhada. Autobiográfica ela nos conta a história de Criag no momento de decisão de sua vida: Sair do colégio e ir para o seminário, ou seguir a vocação de desenhista indo contra as opiniões da vizinhança que querem ele se torne padre. Nesse momento a repressão religiosa é muito grande, seu medo de pecar é intenso e sua vida não tem nenhuma graça a não ser se comportar e esperar que a vida se decida por si só. Até que acontece aquilo que aquece os corações e reanima a alma: O amor. Ele se apaixona por uma menina no acampamento religioso e tudo o que acreditava vai ser posto em cheque quando ele for passar quatro semanas na casa dessa “amiga”, que tem os pais em processo de divórcio e dois irmãos adotivos com Sindrome de Down, seu único momento de paz é quando está com Craig, dormindo junto em um cobertor de retalhos que ela fez para ele. Em meio a isso a lembrança do irmão menor sempre volta a sua cabeça, como ele dividia um cobertor e a cama com ele quando era pequeno, como os pais infligiam maldades aos dois e como ele mesmo não foi um bom irmão. Tocante é o mínimo que posso dizer, a maneira como ele vai mudando de pensamento durante o inverno é brilhantemente ilustrada em seus momentos finais e o melhor é que isso é só um momento, o amor que ele sente agora não vai continuar a não ser a lembranças que a colcha lhe traz, também são as lembranças que unem os irmãos já quando adultos.
Merece ser lido por todos que gostam de pensar, e deveria ser adotado nas escolas como grande obra da nona arte, mas não vai, pois tem uma cena de nudez e os valores não são os mesmo que o Estado quer passar adiante. Uma pena.

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