quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Espiões, Os, Luis Fernando Veríssimo


É bom notar que as pessoas sentem falta do meu lento resmungar, ou das minhas hiperbólicas efusivas ladainhas elogiosas. Para alguém que ressuscitou o blog a pouco, fico feliz pelo apoio. A explicação para minha fuga do mundo virtual está em uma tríplice complicação. Curso de línguas – trabalho de verdade e Faculdade em término, o que já ligo com a primeira frase do recente romance lido: Formei-me em Letras e bebo para esquecer, o que não está tão longe da realidade deste crítico de internet.
O personagem de Veríssimo é um editor que tem seu grande momento da semana quando chega a segunda-feira, de ressaca, e ele recebe um monte de originais ruins, em que ele pode utilizar toda a sua maldade para detonar o autor, sendo ele mesmo um autor fracassado. Só por esse começo o livro já vale a lida, contudo ele continua se movendo por personagens mais satíricos e estranhos, todos fracassados e patéticos que não deixam nenhum leitor rabugento isento de uma risadinha leve no canto da boca: Dubin o fiel amigo, que inventou um condado para ele e é outro formado em humanas (quase uma terra-media), o professor Fortuna, charlatão de carteirinha que gosta de sexo tântrico, Marcito, o editor sacana que se recusa a pagar Direitos autorais, Edmar autor de livros de astrologia famoso e uma gangue perigosíssima exilada em uma cidade do interior.

A salada está pronta para Luis Fernando exibir seu bom humor contínuo. A história se centra na figura de uma personagem que está armando uma vingança escrita contra os tipos perigosos com quem ela vive. Ela envia os originais de seu texto para o nosso narrador que se apaixona pela história sombria e sem vírgulas que recebe. O nome da personagem é Ariadne, como da lenda do Minotauro e tece sua teia sob todos os amigos do narrador também, estes vão até a cidade para salvá-la, já que ela ameaça se matar. É verdade? Pouco provável, mas nossos personagens vão do mesmo jeito como espiões em missão de salvamento. Essa talvez é a grande sacada do livro. Nosso narrador que leu Le Carré demais e está a procura de um sentido em sua vida se joga de corpo e alma na aventura, em que o final vai mostrar que os limites da ficção e realidade pressupostos por nossas mentes leitoras são mais estreitos do que se imagina e o perigo pode ser muito real.


Leve, engraçado e ao mesmo tempo assim que terminei a leitura me inquieta essa sensação indescritível que a história é mais metalinguística do que se pensa a princípio, mas um romance que fala desse pessoal formado em humanas que estão destinados a serem um rocambole de significações que ainda estão para serem descobertas. E é a esse pessoal de humanas que me junto agora formado em Letras e já bebendo literatura para comemorar.

Um comentário:

Matias Minduim disse...

Quero Ler!

Veríssim Filho é massa mesmo ... queria trombar com ele um dia nesas minhas idas a Porto Alegre ...

"ele recebe um monte de originais ruins, em que ele pode utilizar toda a sua maldade para detonar o autor, sendo ele mesmo um autor fracassado" ... que medo de ser medo premonição isso!