domingo, 27 de dezembro de 2009

JIMMY CORRIGAN – O MENINO MAIS ESPERTO DO MUNDO, F.C. Ware.



Jimmy Corrigan é um homem de 37 anos, castrado emocionalmente, inseguro de tudo, vive encolhido em si mesmo e telefona para mãe todo o dia. Um belo dia ele recebe uma carta de uma pessoa que alega ser seu pai e o convida para passar as festas de final de ano com ele, para eles finalemnte se conhecerem. Jimmy vai e descobre um pessoa da qual ele não tem nada em comum e esse encontro relativamente curto vai ser o primeiro e o único, conforme a capa nos informa. Essa é a história do quadrinho em seus termos gerais, contudo sua constituição é a mais complexa possível, elaborada a enésima potencia nessa obra que é considerada o Ulisses do quadrinho.

O que pode afastar um leitor mais acostumado com o selo DC/Marvel de agilidade de histórias mensais, mas deve agradar o nosso público adulto de graphic Novels. Jimmy é um quadrinho para poucos, a realidade se confunde com o sonho, a imaginação se sobrepõem por vezes e você não distingue o que é realidade e o que é a cabeça do protagonista. Há explicações técnicas e maquetes para serem “feitas” pela e a história também abrange boa parte da vida de Jimmy avó no começo do século, e do Jimmy pai em seus anos de juventude. Há algumas observações sociológicas a cultura americana e uma grande análise do preconceito racial dentro da estrutura da obra. Ainda sobre a estrutura é um eterno vai e volta ao passado que ainda fragmenta a narrativa.

A primeira barreira a ser transporta é um prólogo como bula d remédio que ensina como ler o livro que tem em mãos. Escrito como se fosse uma bula de remédio, prepare-se para ficar uma boa meia-hora om as vistas juntas para entrar na narrativa levemente engraçada de F.C. Ware, que contém algumas críticas deliciosas a imagem dos quadrinhos atuais e que encontra sua força não no tom cômico das atitudes dos Jimmy's, um patetismo que leva a uma profunda melancolia deste indivíduos fechados em si mesmo.

Sobre estes indivíduos é que se centra a totalidade da obra, uma vez que a multiplicidade de Jimmy's torna o título ambíguo. O jimmy atual não é retratado com um menino, apesar de se tornar claro que ele é aquele adulto que regrede a infância com muita facilidade. Ele simplesmente ignora todas as barreiras da vida adulta, a emancipação e falta de interesse em relacionamentos são os mais gritantes, assim com sua carência paterna que o força a ir em encontro ao seu pai biológico. O outro Jimmy, que é seu avó natural também, tem boa parte da história para ele e sua similaridade com o protagonista não é mera coincidência, as carências afetivas amorosas, a insegurança perpetua e o relacionamento conturbado com o pai são o drama do Jimmy de 1900, um espelho da situação atual, que demonstra que os males de uma família são eternos;

Por fim, sobretudo, Jimmy Corrigan é um livro sobre os relacionamentos humanos. O detalhismo de sentimentos e ações é incrível, o desenho que se centra só nos protagonistas é belíssimo, uma explosão de cor que torna os temas ainda mais pesados pela simplicidade dos traços, mas a parte imaginativa de sonhos e reflexões, tornam o livro um objeto de estudo da psicanálise e suas interpretações são diversas. Um livro sobretudo fascinante e uma história fantástica.

3 comentários:

Anônimo disse...

Li a resenha desse livro no jornal aqui da minha cidade-estado, Poa/RS, Zero Hora, e fiquei supercuriosa. Comprei alguns dias depois e estou adorando...Acabei digitando no google pra ver se achava alguma outra crítica e vim parar em seu blog. O livro é excelente mesmo!

Anônimo disse...

Meu amigo, definitivamente esta é uma obra clássica, mas não pelo status que ganhou entre o público alternativo que tem como principal "defeito intelectual" "ler este tipo de coisa". É um clássico porque certamente nos ensina profundamente e da melhor maneira: pelos fragmentos. A história em si não é nada, é simples, é um drama de família, o retrato de um homem mal resolvido com o seu próprio mundo, preso a uma sociedade de delírios de consumo, de satisfações impossíveis e de insatisfações e anseios plenos&profundos. No entanto, ao meu ver, é a forma fluida e interrompida pela qual ela nos é mostrada que nos revela e nos desmascara em singelas passagens e trechos, fazendo-nos perceber o quanto podemos ter do Jimmy dentro de nós. Confesso que chorei em muitos momentos, e não pelo drama da história como um todo, mas por partes dela que muito me tocaram, inclusive cenas em que sequer havia palavras. Concordo com tudo o que você disse sobre a obra. Para mim, ela é sobretudo um retrato composto por muitos e muitos rostos, pois eu sou, assim como você, o tal do Jimmy Corrigan.

Um abraço.

Renan

Anônimo disse...

Meu amigo, definitivamente esta é uma obra clássica, mas não pelo status que ganhou entre o público alternativo que tem como principal "defeito intelectual" "ler este tipo de coisa". É um clássico porque certamente nos ensina profundamente e da melhor maneira: pelos fragmentos. A história em si não é nada, é simples, é um drama de família, o retrato de um homem mal resolvido com o seu próprio mundo, preso a uma sociedade de delírios de consumo, de satisfações impossíveis e de insatisfações e anseios plenos&profundos. No entanto, ao meu ver, é a forma fluida e interrompida pela qual ela nos é mostrada que nos revela e nos desmascara em singelas passagens e trechos, fazendo-nos perceber o quanto podemos ter do Jimmy dentro de nós. Confesso que chorei em muitos momentos, e não pelo drama da história como um todo, mas por partes dela que muito me tocaram, inclusive cenas em que sequer havia palavras. Concordo com tudo o que você disse sobre a obra. Para mim, ela é sobretudo um retrato composto por muitos e muitos rostos, pois eu sou, assim como você, o tal do Jimmy Corrigan.

Um abraço.

Renan