domingo, 21 de junho de 2009

OUTRA VIDA, Rodrigo Lacerda



Um casal espera as 7:15 em rodoviária, o horário de partida de um ônibus que vai levá-los a uma outra vida longe dos prolemas da capital, mas não estamos diante de um romance de evasão e sim dos momentos que precedem essa evasão tão buscada, principalmente, por nós paulistanos, e como a estrutura promete não vamos sair desse terminal até o final do romance. E é o quase que predomina e é o quase que falta para ele se tornar inesquecível.
Se fossemos classificar estaríamos diante daquela literatura que vai se concentrar em um momento só para destrinchar questões fundamentais, no caso são as duas horas que vão anteceder a partida do casal. Por que eles estão fugindo? Pra onde vão? São as duas questões que podem assombrar no primeiro capítulo, mas logo na orelha ou no segundo capítulo já sabemos que ele é um executivo corrupto e que estão indo para o interior depois de um escândalo, mais especificamente para a casa da sogra. A mulher não quer ir pois criou uma vida na capital, a filha é muito inocente em suas 5 primaveras e ama demais o pai. Essas pequenas tensões vão se acumulando para explodir principalmente pois há um amante na história para apimentar esse romance, que é quase que uma análise naturalista da vida conjugal. O que Rodrigo Lacerda faz brilhantemente ao que se propõem, mas que ainda assim, deixa no ar que poderia ser amis interessante.
Em primeiro lugar, porque temos um ótimo primeiro personagem, o marido, que é corrupto, e por incrível que pareça NÃO TEMOS personagens corruptos interessantes na nossa literatura tupiniquim. Esse fato poderia render algo mais interessante que uma briga conjugal, mas vai ficar adormecido, sendo que em um plano mais geral ele meio que vai se eximir até o final do romance.
Depois a tensão explode e já se encaminha numa resolução, o que poderia se transformar em um épico se resume a um romance bem quadradinho.
A melhor parte do romance está em demonstrar como um pai pode ser o elemento de união, que realmente ama a filha. Ao contrário da mãe, como tal se apresenta, pode ser o elemento que desestrutura a família, pode não amar a filha e pode querer uma independência que não segue os padrões modernos. A mãe, que na atualidade, é o elemento de união e que representa a família, mas em Outra vida é colocada de lado, o que provoca uma inversão moral interessante mas que também fica no quase. Bem conduzido, com um lirismo coloquial muito bonito que aponta para um autor novo brasileiro que deve ser acompanhado de perto, mas que demonstra que seu melhor ainda está por vir, e alias, estará na Flip deste ano que ocorre dia 1 a 5 de julho. Vejo-os lá.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

INDIGNAÇÃO, Phillip Roth


Estou indignado, não pelos mesmos motivos que afligem o protagonista deste romance, mas pelo fato do mesmo ser um completo idiota e não perceber isso nem tendo a eternidade para rememorar sua trágica história de 19 primaveras.
Tenho um grave problema com Phillip Roth, até o momento podendo ser ilustrado pelo dito popular do oito-oitenta. O Homem Comum foi depressivamente chato, quase caí de sono na página 40 de 120, em compensação o Fantasma saí de Cena foi um dos livros mais originais do ano passado, combinava o tom melancólico que sua escrita simples parece sempre conter, com uma análise dos demônios que assolam o país do Tio Sam recentemente, e até onde li o Complexo de Portnoy, ele era engraçado, mas não terminei por motivos que estão além de minha pessoa. Isso faz que você ao mesmo tempo fique ansioso com um novo livro, ao mesmo que apreensivo pois não sabe extaamente sobre o que vai ler. Nesse caso foi muito mais próximo do Homem Comum.
Meu problema não é com o nível técnico do escritor norte-americano, mas o nível de melancolia que ele expressa é um prato cheio para os seus fãs, mas para mim é uma ânsia tal qual a de Marcus Messner.
Aqui temos um personagem adolescente prestes que entra em uma faculdade para fugir do pai, que acha que ele está correndo perigo de vida até por atravessar a rua, completamente louco, louquíssimo para que o filho morra ou para que algo aconteça, um tonto completo, mas ele é só um coadjuvante, nosso protagonista é a sombra de uma medo crescente também, mas um medo proveniente de uma possibilidade de socialização. Na faculdade ele quer ser deixado em paz, não quer amigos, rejeita a tradição, não se junta a nenhuma fraternidade, desconfia quando uma menina se interessa por ele e despreza o diretor de uma faculdade católica, e alias, ele é ateu! Só saliento a contradição de um ateu entrar em um orgão cristão e se irritar por fazerem rituais cristãos.
A chave para entendê-lo está no diretor que resolve o quebra cabeça que é Marcus Messner, não e um quebra cabela difícil, e apesar de não precisar de uma explicação tão didática ele a fornece: Marcus sempre que vê algum desafio na vida, ou alguém que não partilhe de sua opinião foge, se esconde ou ignora, mas não tenta compreender, ou respeitar ele se põem em um nível tão alto que acha que todos são cegos, ao ser confrontado com esse disparate, faz aquilo que sabe melhor, se indigna a ponto de vomitar na sala do diretor.
Sucumbe aos pedidos da mãe, que é judia, com uma facilidade que só salienta sua falta de maturidade. Se apaixona por uma, mais pela possibilidade sexual do que por ela mesma (sério, é uma personagem plana, ele não a entende de maneira alguma, repete para si mesmo que suas atitudes são devido ao fato de ter pais separados?!) e se desapaixona porque descobrir que ela tentou se matar, posso continuar descrevendo as desventuras por horas, mas eu me irritaria.
Tenho certeza que é uma questão de gosto, seu final é um movimento natural afinal ele é um autor-defunto, e não deixa de ser engraçado pois eu já estava querendo matar o personagem! A orelha do livro diz que é um romance sobre amadurecimento, mas eu digo o contrário é um livro sobre a impossibilidade de amadurecimento e vale uma leitura, contudo vá preparado. Se você é fã, vai adorar!

terça-feira, 9 de junho de 2009

RETALHOS, Craig Thompson



Poderia um quadrinho ser complexo o suficiente e emocionante o bastante, para ficar na memória tempo bastante para atrair até aqueles que não gostam do gênero? Sim atualmente isso é muito fácil! Principalmente com programas que resolveram ver as burradas da nossa Secretaria de Educação e apresentar uma obra por programa, dito jornalístico, que não deveria ser adequada para o público ao qual ela foi destinada pelo governo.
É a hora da digressão, e eu nem cheguei no assunto principal: mandar o Dez na área, um quadrinho adulto de sátira de futebol para a 2ª série/ 3° ano é burrice! Os jornais começarem caça as bruxas é esperado, tanto quanto quando eles fazem merda. Triste fim do Pequeno menino ostra, é um livro de poesia lindo, para o público juvenil, principalmente por que é do Tim Burton e tem aquele apego e tudo mais.... mas, tudo bem! é bom discutir o que faz bem para a escola e o que não faz! Agora sentar o pau em Um contrato para Deus, é asneira!!! é forte sim! é para o público adolescente? Pode ser, eu acho que não .Tem que ter na escola? TEM! Esse é marco histórico da Hq's como querem recolher das escolas e formar acervo de qualidade? É tirar os livros do Zola, por que tem descrições naturalistas de sexo! Alias Capitães da Areia é mais forte que o Dez na área e se tem que ler no ensino fundamental.
Em todo caso, o que os jornais fazem é um preconceito enorme com os quadrinhos e é bom porque assim haverá mais discussão e mais gente vai se interessar!
Mas venho por meio desta falar deste quadrinho ao lado, lançado mês passado aqui no Brasil, é uma das melhores obras em quadrinhos que eu li nos últimos anos, tem uma sensibilidade incrível, e é muito bem desenhada. Autobiográfica ela nos conta a história de Criag no momento de decisão de sua vida: Sair do colégio e ir para o seminário, ou seguir a vocação de desenhista indo contra as opiniões da vizinhança que querem ele se torne padre. Nesse momento a repressão religiosa é muito grande, seu medo de pecar é intenso e sua vida não tem nenhuma graça a não ser se comportar e esperar que a vida se decida por si só. Até que acontece aquilo que aquece os corações e reanima a alma: O amor. Ele se apaixona por uma menina no acampamento religioso e tudo o que acreditava vai ser posto em cheque quando ele for passar quatro semanas na casa dessa “amiga”, que tem os pais em processo de divórcio e dois irmãos adotivos com Sindrome de Down, seu único momento de paz é quando está com Craig, dormindo junto em um cobertor de retalhos que ela fez para ele. Em meio a isso a lembrança do irmão menor sempre volta a sua cabeça, como ele dividia um cobertor e a cama com ele quando era pequeno, como os pais infligiam maldades aos dois e como ele mesmo não foi um bom irmão. Tocante é o mínimo que posso dizer, a maneira como ele vai mudando de pensamento durante o inverno é brilhantemente ilustrada em seus momentos finais e o melhor é que isso é só um momento, o amor que ele sente agora não vai continuar a não ser a lembranças que a colcha lhe traz, também são as lembranças que unem os irmãos já quando adultos.
Merece ser lido por todos que gostam de pensar, e deveria ser adotado nas escolas como grande obra da nona arte, mas não vai, pois tem uma cena de nudez e os valores não são os mesmo que o Estado quer passar adiante. Uma pena.

Ang Lee Procurado Vivo ou Morto!


Nunca o conheci pessoalmente, mas na televisão ele parece ser menor que eu, e olha que eu sou um tampinha! Como um sujeito tão simpático e pequeno pode deixar tanta gente enfurecida? Vamos ver quem quer a cabeça de Ang Lee: O pessoal de Taiwan, que reclama até hoje que os atores de O Tigre e o Dragão não falam uma palavra com o sotaque certo, e Ridley Scott por ter tirado o Oscar pelo mesmo filme, e essa era última chance do coitado. O pessoal dos quadrinhos, mais especificamente os fãs do Gigante de Verde o querem estripado em via pública de pois de 140 minutos de filme para falar “what a fucky is that”, com o Hulk, atualmente todos os da velha guarda do Western que viram o herói machão morrer, alguns desavizados que foram ao cinema pensando “Oba Filme de caubói!” e alguns neo-nazista pelo Brokeback. A mais nova destruição do baixinho chega aos cinemas brasileiros com 2 anos de atraso por causa da censura, fez Joan Chen, atriz do filme, ser exilada da China, e fez este país pequeninho querer a cabeça de Ang Lee e tirar o filme das salas de exibição.. ah, sim ele ganhou o Leão de Prata de melhor de diretor por esse filme, mas é só um detalhe.
A história é bem simples Joan Chen interpreta uma menina que assim que saí do colegial, faz que todo chinês da década de 40 faz se junta com o amigos e saí para matar os traidores do país, lógico que ele é extremamente motivada pelo amigo bonitinho que ela está apaixonada e é uma anta. Seu plano é seduzir o oficial interpretado por um Tom Leung inspirado e matar ele na hora oportuna, lógico que tudo dá errado e ela foge, três anos depois o amigo dela reaparece a convidando para reintegrar a missão, agora com toda milícia de resistência para ajudá-la, ela como já se sentia atraída pela figura misteriosa de Tom Leung vai em frente e jogo se torna cada vez mais perigoso uma vez que ela começa a se apaixonar pelo vilão e a missão vai se tornando impossível.
Estruturalmente bem construído é uma trama ótima que mantém os dois lados da moeda irando sincronicamente o desejo amoroso da relação impossível, e o perigo de ser descoberto. Por que o filme é um escândalo então? Por que Ang Lee não dá ponto sem nó, então não estamos falando de amor simples e platônico e sim de desejo sexual fervoroso que se concretiza em três cenas que fazem os diretores da pornochanchada se encolherem na cadeira e ele ainda tem a pachorra de chegar em rede e dizer que não gosta de dirigir essas cenas, fica encabulado e nunca sabe o que fazer...SEI! E o pior é que elas tem tudo a ver com o filme, é um misto de violência e erotismo que chega a ser incomodante, e mostra toda a complexidade da relação adúltera que está na tela.
Joan Chen está ótima, e por isso ela foi deportada, ela é linda e rouba o filme, tem uma inocência que a faria passar por uma colegial normal e uma explosão nas cenas em que não suporta mais a relação que assusta, destaque para quando ela encontra o líder da resistência.
Tom Leung, é a espinha dorsal do longa, sua atuação remete o mistério que fica em nossas cabeças durante a projeção, será que ele é tão mal quanto dizem? Não há um ser humano atrás dessa frieza toda? Sua violência e os poucos momentos sentimentais garantem o bom andamento da fita, e no final vamos chegar a uma conclusão sobre este personagem e que é a última cena do filme e é por isso que Ang Lee é um ótimo diretor, alias o final não vai satisfazer a todos mas pela audácia do baixinho este não é um filme para todos e que tragam a cabeça de Ang Lee