domingo, 24 de outubro de 2010

34ª Mostra: Estranho Caso de Angélica – Manoel de Oliveira

estranho caso de angelica Na última quinta-feira deu-se a largada à 34ª Mostra de Cinema em São Paulo, o evento é um dos mais esperados entre os cinéfilos, sendo que o filme de abertura é selecionado a dedo dentre as mais de 400 produções que visitam nossa cidade. Esse ano o escolhido fora o novo filme de Manoel de Oliveira, o maior cineasta português e o mais velho cineasta em atividade no mundo.

Manoel é um caso a parte, 101 anos, lúcido e com uma saúde exemplar. Recentemente foi operado para colocar um marca-passo, e por isso não pode estar presente ao evento, contudo segundo os comentários ele já está até trabalhando e outros projetos. Vindo ou não, seu filme é dos mais disputados do festival, contudo me recordo de uma outra abertura que presenciei quando O Passado, de Hector Babenco abriu a mostra. Muito badalado mas muito regular em sua realização, e só sendo um fã hardcore do diretor para estabelecer um diálogo com a obra em si.

A ideia de Estranho Caso é muito interessante. Isaac(Ricardo Trêpa), um fotografo um tanto perdido em sua p´própria obra é chamado em caráter de urgência para tirar uma fotografia em um bairro chique. Chegando a mansão se depara com um fato incomum, a foto que deve tirar é de uma moça morta, como última recordação para a mãe. No meio da sessão o rosto estático de Angélica (Pilar Lopez Ayala), por meio da lente da máquina, abre os olhos e sorri para Isaac o que o perturba imensamente.

A fita corre e não só essa cena fica na imaginação de Isaac como o espírito de Angélica o assombra como uma paixão que se foi sem nunca ter acontecido. Não é um filme de terror, é um romance platônico que o protagonista passa a experimentar o levando a loucura e ao trágico fim. No papel é realmente instigante, contudo a realização é muito mais expositiva do que filosófica. Se alguma questão tem que ser debatida ela deve ser feita dentro da cabeça do espectador, a filmografia é puramente dramática e estática, quase como se estivesse no teatro contudo com menos intensidade nas emoções.

Na verdade este é um estilo de Manoel: a câmera estática, um cenário de comédia de costumes, as questões religiosas que assombram os protagonistas, contudo ao meu ver para esse filme específico não funcionou pois a transformação do Isaac do começo (perdido, que tirava fotos da realidade e um pouco arrogante) para o Isaac do fim (emocional, querendo arrombar o túmulo de Angélica e afastando todos) é percebida no plano interpretativo, contudo essa transformação nos perde em algum ponto, não vamos junto com o personagem e com isso a história se torna fria como se houvesse uma tela de vidro entre nós e a narrativa.

Há muitos pontos positivos e o filme se mantém fiel a seu estilo até o final, o que só mostra a lucidez do diretor português, entretanto há muitos pontos altos e baixos, e um desenvolvimento que só torna essa história razoável. 

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