segunda-feira, 25 de outubro de 2010

34ª Mostra: Mic-Macs – Um plano complicado

 

micmacs_a_tirelarigot Os filmes Jean-Pierre Jeunet se assemelham muito aos de Tim Burton não na estética, mas no visual minimamente trabalhado que qualquer um identifica como sendo o estilo do diretor. Suas tramas flertam por vezes o macabro, mas seu mundo é de um colorido brutal ao nosso padrão de realismo brutal, normalmente escuro. Seus filmes são explorações extremas ao imaginário humano.

Lembro que a primeira coisa que vi dele, foi antes mesmo de meu desenvolvimento cinéfilo. O Ladrão de Sonhos (La cité des enfants perdus – 1995) me rendeu muitos pesadelos na infância, seus visual esquisito e o sofrimento que as crianças sofrem no filme não são exatamente apropriados, mas a partir daí que comecei a gostar desse tipo de filme. Delicatessen, tinha um humor negro extremante grotesco e sedutor, e se Alien – A Ressureição, não foi um bom lugar para desenvolver sua imaginação, o que ficou retiro criou um dos grandes clássicos dessa década O Fabuloso Destino de Amélie Pouland.

Não vi Eterno Amor coisa que ainda devo fazer brevemente, contudo estava com muita ânsia para a chegada desse novo exemplar, a Mostra ter trazido um pouco antes com certeza já foi o evento dessa edição. Mic-Macs é um filme divertido, inventivo e uma homenagem ao cinema mudo.

A história gira em torno de Bazil (o excelente comediante Dany Boon) um menino que desde criança tem sua vida destruída pela indústria armamentista: Seu pai morreu durante uma guerra na explosão acidental de uma mina. 30 anos depois uma bala perdida acerta Bazil o colocando em coma e em risco de vida, mais que isso ele perde o emprego e o alojamento se tornando um mendigo nas ruas de Paris.

Essa destruição social de Bazil são os dez primeiros minutos do filme, e também é demonstrada com muito bom humor e risadas. Uma crítica aos laços sociais e a fragilidade de como eles podem ser rompidos.

Ele acaba encontrando uma estranha família que o adota: Cadeia, um senhor que conhece todos os caminhos do submundo; Caoutchouc, a grande mãe de todos; Um escritor do Congo que consegue usar 20 palavras para dizer bom dia; Uma menina que consegue calcular tudo; Um senhor simpático (e muito forte) que faz qualquer coisa com sucata; e ainda Henry, um homem que tem várias peças de metal no corpo e a Mulher-Elástica, que eu acho que tem algum tipo de bipolaridade pois as mudanças de humor são relativamente rápidas nela. Esse são os Mic-Macs que vivem em um lixão, um bando de mendigos com algum tipo de peculiaridade excluídos da sociedade.

Para quem pensou que minha exposição parece um grupo de super-heróis, não podia estar mais certo, principalmente porque os super-vilões logo apareceram: A indústria de armas, dois grandes estabelecimentos, o de balas e o de bombas, que foram os grandes responsáveis pela destruição da vida de Bazil. Ao descobrir os prédios e os donos (e alias ficam um de frente para o outro) começa o plano complicado do título: Jogar um conta o outro!

A partir daí começa a comédia muda, que forma todo o plano complexo de Bazil numa das coisas mais engraçadas que eu vi no cinema nos últimos anos. E a comédia física que Danny imprime ao personagem deixa qualquer Mr. Bean no chinelo, a homenagem já começa nos créditos iniciais com uma abertura e belíssima de filme da década de 20.

Fato curioso foi que nunca tinha visto um filme com uma crítica tão explícita em um filme de Jeunet, a indústria armamentista é vista com muita patetice mas o olhar em cima dela não perde seu foco crítico. Não é intenção do filme fazer uma exposição sobre o funcionamento real da mesma, mas assim como Chaplin e seu Grande Ditador, a comédia deixa claro como a violência por armas é idiota. Muito bom. Vale a pena assistir com um lenço para enxugar as lágrimas da risada.

Um comentário:

bones disse...

SHOW. tinha tudo isso no filme? e eu que só me diverti, maldade!

Suas criticas ficam cada dia mais complexas, Fa. Já dá para começar a escrever um livro de referencia para cinefilos.