domingo, 28 de março de 2010

FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE, OS – de Esmir Filho

famosos e os duendes Certa vez estava eu assistindo uma entrevista com alguma produtora muito chata em um canal universitário. Ela afirmava que a diferença do cinema brasileiro para os demais era que todo mundo produzia toneladas de filmes e só 1 ou 2 bons, e nós brasileiros produziamos 30 a 40 filmes por ano, e 30 ótimos filmes! é uma declaração extremamente patriótica e ilusória. Creio que na última década temo Cidade de Deus e Tropa de Elite como as grandes produções que podemos chamar de clássico. Isso sim é uma afirmação dentro da realidade.

Com pessoas loucas como a que estava na entrevista é que temos nossa camada de críticos e produtores que tentam vender uma imagem totalmente estranha do cinema brasileiro contemporâneo, e acreditem em mim, há muitas pessoas que ainda veem uma produção nacional e já torcem o bico para comprar a entrada ou mesmo cogitar ir assistir. Vamos então, antes de começar a falara dessa produção fazer um rápido panorama sucinto do que é o cinema brasileiro hoje: Achamos que estamos bem longe de Hollywood, mas não estamos, nossa Hollywood é Globo Filmes que ataca pelo menos metade do cinema em comédias leves (Se eu fosse você…, Lisbela e o prisioneiro, Casa da mãe Joana), filmes históricos e cine-bios (Lula, Menino da porteira, Mauá, Lamarca) que não atingem a excelência, são bons mas normalmente não se destacam. O pior mesmo são as obras infantis, que aparentemente não precisam de nenhum talento cinematográfico para fazer bilheteria (Xuxa e Didi, qualquer coisa), as obras pretensiosas que usam a estética da teledramaturgia (Olga, Salve Geral, Última parada). Esse é um ramo da produção, o outro são os órfãos de Glauber que acham Godard é legal e normalmente são feitos para o público da Augusta e Paulista , aqui só a pretensão e o conhecimento de que a ideia é melhor que a estética, ou vice-versa (Baixio das Bestas, Do começo ao fim, e muitos outros casos), mas são as tentativas de transgressão, que são válidas, mas nós enquanto nação não temos uma história cinematográfica tão ampla para tanta rebelião, se rebelar contra europeu é no mínimo estranho. Nossa melhor produção está literalmente no meio destes pólos: Homem que copiava, Nina, Cheiro do ralo, Quanto vale ou é por quilo, Ano em que meus pais saíram de férias, Proibido Proibir, Apenas o fim e agora os Famosos e os Duendes da Morte.

O filme ao qual fui a pré-estreia essa semana será lançado em 16 de Abril nos cinemas nacionais e é algo diferente mas que ainda está interessado em trazer público para as salas, pois creio que o maior desafio do atual cinema é conquistar público dentro do país. Em uma cidade do interior do Rio Grande do sul a narrativa se fragmenta entre o personagem principal, que não tem nome, e que sofre com o desejo de ir embora da pacata cidade e os desejos mórbidos que ele em off narra em seu blog. Intercalam as imagens caseiras de uma menina e um cara em situações estranhas, expressões artísticas em meio ao campo. O mesmo cara aparece em várias cenas em que o mostra como excluído da pequena sociedade formada,  sendo hostilizado. Como isso se junta com a história principal? Só perto do final fica mais claro. O filme é bem lento e contemplativo, algo de nostálgico dentro da história e de exemplificação do tédio que o personagem principal sofre.

Quando os mistérios que cercam a história são resolvidos, o filme vai para seu ato final que vai deixar mais interrogações do que respostas dentro da cabeça do espectador. Tenho minhas teoria, ouras pessoas tem as delas, mas é indubitável que o grande mérito é deixar as questões pululando em nossas cabeças por todos os minutos de projeção, a começar pelo título. é um filme bem estético, que mostra muito talento do diretor, seu único ponto fraco é a fluência da narrativa que as vezes se demora muito na contemplação, mas é só um detalhe que é a apagado pelas atuações juvenis e da mãe do personagem principal. A história é baseada num belo trabalho juvenil de Ismael Capanella (que atuou no filme como o misterioso Julian) bem poético e curto, o filme é extremamente mais sombrio e capta a essência das angústias juvenis. O suicídio e a morte estão constantes dentro da obra, isso para mim é a chave para as últimas cenas, que bebem no surrealismo. Valerá o seu ingresso e suas dores de cabeça a pensar em seu desfecho.

quarta-feira, 24 de março de 2010

ILHA DO MEDO, de Martin Scorsese

 

ilhadomedo Ao sair da projeção de Shutter Island fiquei pensando em fundamentos teóricos da estrutura do roteiro. Isso não é de se estranhar pois estou devorando um livro do Robert McKee sobre a teoria do roteiro e apesar de discordar de muita coisa no livro, há muitas outras interessantes. Começo essa crítica com esta afirmação porque destruindo o roteiro e analisando a fundo a história do filme como um todo, é ma história bem básica complicada a enésima potência, mas de maneira genial. Aí nós nos pegamos analisando clichês e como, quando roteiristas, tentamos fugir deles a todo custo, quando podemos amarrar uma história bem contada e como isso é difícil.

Então primeiramente tenha em mente que a história de Ilha do medo é MUITO BOA, baseada num livro de um dos autores policiais mais psicologicamente complexos da atualizada Dennis Lehane, o suspense de horror é um investigação a origem dos traumas e medos do ser humano. Segundamente, é Martin Scorsese, então é bom ter muito respeito com isso. Tecnicamente perfeito, muita gente torce o nariz para ele por ter se tornado mais comercial. Shutter com certeza é, mas basta ver seu começo e pensar na grande homenagem que ele faz ao noir dos anos 50 que você tem a ciência de estar diante de uma dos maiores cineastas do mundo.

Leonardo DiCaprio é um policial um tanto quanto traumatizado (com o mar, a guerra, a perda da mulher) que vai investigar o desaparecimento de uma paciente na prisão-hospício de Shutter Island, para isso ele conta com um parceiro estranho e uma grande teoria conspiratória de experiência com pacientes. A partir bunde-se para 2h30 de puro suspense na qual você vai ficar muito tenso, Martin utiliza de muitas imagens surrealista para fazer a lembrança, imaginação e alucinações de DiCaprio para investigar os cantos escuros da loucura. O final é surpresa e passo dizer que é o grande trunfo do filme. Ainda estou pensando sobre as engenhosas artimanhas do roteiro, mas não vou contar pois com esse tipo de filme quanto menos souber é melhor….

terça-feira, 9 de março de 2010

o Show que deveria ter sido.

Pela últimas semanas respirei prêmios: Golden Globe,Bafta,Directors guild, Actors guild,Razzies,Spirit....
Foram filmes e mais filmes que busquei avidamente no imdb, youtube,megavideo...
Conhecer, procurar, assistir. Assim passei os últimos dois meses e acabei por estar familiarizada com os concorrentes ao Oscar, principal prêmio de cinema.
Para mim o show foi curto, quase sem surpresas, curti os premios, os discursos , celebrei até. Mais um Oscar, aquele que seria totalmente diferente....igualzinho a todos os outros anos.
Eu esperava que Guerra ao Terror ganhasse pois desde o Golden Globe o filme está em foco. Mas também torcia por Avatar.
Fiquei na fila para ver Avatar num cinema lotado...Guerra ao Terror era um filminho na prateleira da locadora havia meses.

Mas para aqueles de só vêem o Oscar a situação foi um pouquinho diferente. Diante da massiva propaganda sobre mudanças,e de um filme recordista em todas as categorias de público, a audiência desse ano chegou aos 41 milhões de espectadores (foram 36 ano passado). Acredito que boa parte desse público também esperava a vitoria de Avatar.

Coloque-se na pele de um sujeito que gosta de filmes e quer acompanhar o Oscar.
Imagine que você foi ao cinema religiosamente durante o último ano, comprou revistas de cinema, viu as principais estréias, assistiu ao menos um filme por semana, a ponto de se considerar um adepto da sétima arte. Então, vêm as indicações para o Oscar e você descobre que não viu metade dos filmes, claro eles ainda não estrearam, e serão algumas semanas para conhecê-los. As semanas passam, os filmes estreiam praticamente todos juntos, em dois , três cinemas cada um . Será uma maratona conseguir ver todos. O Guerra ao Terror inclusive é lançado em pouquíssimos cinemas . Você faz malabarismo, revê a conta bancária e enfrenta as filas para poder acompanhar a premiação do Oscar devidamente informado.

Então, passado o show, você encontra aquele amigo que nunca vai ao cinema, que não liga para prêmio nehnhum, não conhece Zip de cinema e descobre que ele tem o filme ganhador do Oscar em casa, comprado na loja de departamentos na promoção de 12,99 lá pelo final do ano passado.

Agora me diga se você vai assistir o Oscar ano que vem.

domingo, 7 de março de 2010

Pré-Oscar

 

Daqui a algumas horas conheceremos os ganhadores do Oscar 2010, esse ano com 10 competidores a melhor filme. O que por um lado é muito bom pois a maior visibilidade aos filmes, por outro eles conseguem fazer algumas injustiças ou coisas esquisitas:

 

O que Um sonho possível está fazendo os indicados a melhor filme é um grande mistério e Invictus só emplacou ator e ator coadjuvante. Na minha opinião o filme de Clint é bem mais completo como filme do que o filme John Lee Hancock que se apóia exclusivamente na performance de Sandra Bullock, mas os americanos querem good feeling movies no momento. Então isso explica a indicação.

Nas categorias de coadjuvante, não há ninguém que bata Christoph Waltz (Bastardos) e M’onique (Preciosa), quem chega mais perto é Stanley Tucci (Um olhar do paraíso) mas acho difícil tirar o prêmio destes dois.

Na categoria de ator e atriz a coisa é mais interessante. A interpretação de Jeff Bridges é extraordinária em Coração Louco, mas Colin Firth em Direito de Amar é igualmente forte. Sandra Bullock  já está preparando o discurso, e apesar de ser sua melhor atuação, ela não é nenhum monstro a ser batido. Alias prefiro muito mais a Meryl, mas como todo mundo acha ( e deve ser) que é a única chance dela, enfim…

Assisti até o momento 9 dos 10. Falta um Homem sério. Falo com detalhes dos blocos que se formaram em minha opinião:

1 – Blocos da menções honrosas:

Um Sonho Possível -  Já salientei minha opinião. Gostei do filme mas sua presença na lista é mais política do que artística. Podíamos colocar o lugar Invictus, 500 dias com ela, Coração Louco, até O Anticristo

Up – Altas aventuras Compensando WALL-E ano passado, não é um exagero estar entre os 10 melhores filmes, contudo já vai ganhar animação é aí vai sempre ficar mais difícil para um desenho ganhar outra coisa, entretanto trilha sonora tá no papo

Preciosa – Sundance e a crítica levou o filme até aqui, mas não passa disso. Filme ótimo, poderia ter se tornado em um melodrama besta e forte mas a combinação entre o diretor e os atores foi perfeita.

Educação – Eu pessoalmente gostei muito do filme. Ao contrário das produções inglesas habituais esse filme é muito engraçado. Méritos de todos, mas principalmente de Carey Mulligan que traz uma interpretação na medida, sobre uma menina de 16 anos (detalhe ela tem 24) que se envolve com um homem mais velho que pode trazer uma vida muito mais emocionante do que a vida de estudante que ela costumava ter. ótimo mas é o mesmo caso de Preciosa.

Bloco 2, acima da média mas não é ano deles.

Distrito 9 – Já é um clássico. Revitalizou a FC. é sul-africano. É extremamente original e diferente de todos os outros filmes americanos concorrentes, exatamente por ser um estrangeiro (Sim, é um filme de produção estrangeira). A indicação já um ganho, sua violência e abordagem diferente possivelmente já o tiraria de uma lista com 5.

Amor sem Escalas – Poderia ter sido o Beleza americana do ano. Atuações ótimas, um roteiro atual e esperto fizeram o filme ser ovacionado pela crítica e creio que muito ainda consideram o melhor do ano. Contudo, o momento do cinema é retratar a guerra e os temas universais em relação a essa. Vai faturar roteiro com certeza e só.

 

Bloco 3 – A zebra!!!!!!!!!!!!!1 Que pode ganhar

Bastardos Inglórios – Quentin jogou tudo em seu filme lendário. Conquistou o mundo no meio do ano. Na minha opinião deveria ganhar, pois já é um clássico e o melhor filme do Quentin. Politicamente está quase morto no jogo como a terceira opção, ganhou o Sag, o que prova que ainda há poder. Principalmente por que nas novas regras Avatar e Guerra ao terror podem se anular e a terceira opção ter mais pontos que os dois.

 

Bloco 4 – A VERDADEIRA BRIGA

AVATAR – Outro projeto que os críticos queriam ver afundar, mas Cameron é imbatível e perfeito na concepção de suas obras. Avatar é visto como uma alegoria da Guerra do Iraque e da autodestruição que a humanidade faz. O tema é batido, simples, porém o que mais encanta é a realização do épico, a realidade dos personagens na tela e o uso revolucionário do efeito 3-D.

 

GUERRA AO TERROR – A direção está garantida na minha opinião, apesar de ter um ator com uma atuação ótima e a mão firme de Bigelow ao retratar o suor dos soldados, as moscas e o efeito constante de suspense que o filme tem desde o minuto inicial até o final que o tornam poderoso. É um exercício estético no todo, muito bem executado. Aqui no Brasil ele não tem o mesmo o apelo que nos States, isso porque a Guerra retratada é muito pessoal. Em um país que se enfia em guerras ano sim, não não, as consequências pessoais só tinham sido exploradas no Franco-Atirador como traumas, aqui ela é pela primeira vez demonstrada como droga. e um filme sobre soldados, mas tem muito subtexto político a respeito da situação atual dos Estados Unidos. Acho que ele está ligeiramente a frente nessa reta final. Avatar é torcida maior.  Mas acho também que o Bastardos pode ganhar hoje a noite.

Veremos.