segunda-feira, 21 de junho de 2010

PASSAGEM TENSA DOS CORPOS, de Carlos de Brito e Melo

passagem Sabe quando você vê uma ideia brilhante que te faz pensar em como esse livro deve ser interessante e denso, você fica até excitado com a possibilidade de ler algo diferente e descobrir um novo autor, quando muito um clássico contemporâneo ou esquecido.

Isso aconteceu comigo pelo última vez ao ler O Vento da lua, quando o caminho foi o inverso: ao não esperar nada do livro eu me encantei com a beleza daquela prosa. Você passa muito tempo procurando um livro que possa lhe transmitir essa sensação de alumbramento novamente e eis que eu encontrei um forte candidato pela ousadia de sua história: No inteiro de Minas uma espécie de espírito vaga relatando mortes tanto naturais quanto assassinatos, até que em certo ponto encontra uma situação inusitada. Uma família que tem o pai envenenado ignora a morte deste e coloca o cadáver amarrado na sala como se nada tivesse acontecido.

Ótima história no resumo. Na realização porém, o  livro é muito enrolado e simples, por mais que a escrita se proponha ao lirismo. Não que o livro seja ruim. Ele está bem longe de ser ruim mas creio que um podemos tirar 100 das 248 paginas e conseguiríamos contar a história com um pouco mais de impacto.
O espírito (vou colocar espírito, mas o que o romance sugere é que seja uma língua?) não consegue sair da casa enquanto as pessoas da família não reconhecerem a morte e iniciaren os ritos fúnebres. A mãe está preocupada em conservar sua beleza, a filha em preparar o casamento contudo não há noivo até o momento, e o filho está trancado no quarto se recusando a participar da experiência.

A linguagem é bela e as mortes que são relatadas no meio dessa histórias central estão cheias de significado simbólico, o romance ainda tem um final aberto que casa a história deste morto preso entre a vida e a morte, com a do narrador também preso entre a vida e a morte.

O que nosso interlocutor quer mesmo é, por meio de sua narração, recuperar um corpo para si, já que outrora morrera o que logicamente direciona a narrativa para várias leituras metalingüísticas. Os problemas da história são a demasiada retomada nas descrições, a princípio desse ser que é um fantasma constituído de linguagem,  e que é descrito umas 10 vezes no mínimo, e também  as várias mortes narradas cortando a história principal. Mas o fator determiante para se cortar 100 páginas do livro é a falta de acontecimentos dentro da história já que nada muda: o menino nunca sai do quarto, a menina só fala em casamento, o narrador só reclama das condição de sua existência e até que isso se resolva vão páginas de abstração.
A idéia é ótima, mas ele acaba se saindo muito simples em sua concepção. Acredito que é a maior força do livro esteja em sua linguagem fluida de um poeta nato e apesar de ter 248 páginas é muito rápido de se ler, sendo os capítulos muito curtos. Contudo eu esperava bem mais.

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