segunda-feira, 14 de junho de 2010

Túnel, O de Ernesto Sabato


tunel,o "Que o mundo é horrível é uma verdade que não requer demonstração. Em todo caso bastaria um fato para prová-lo: num campo de concentração, um ex-pianista queixou-se de fome e foi obrigado a comer uma ratazana, só que viva."

Se o trecho acima fez algum sentido para você, comece a se preocupar pois você pode estar se identificando com um personagem realmente aterrorizante. Estranhamente foi o trecho que me fez engolir o livro em uma tacada ininterrupta. O túnel é uma das experiências mais perturbadoras que a literatura produziu, neste caso a literatura do hermano Ernesto Sabato.
A trama é simples, mas sua execução é que primorosa: O narrador da história Juan Pablo Castel está na prisão e por meio de sua prosa direta e analítica, ele pretende narrar o seu crime: O assassinato de Maria Iribarne Hunter, a única mulher que o compreendia e que ele amava.
Assim sendo volta ao passas à uma exposição de seus quadros para apresentar esta mulher que se alumbrou com um de seus quadros mais simples, o de uma mulher na janela, e  intrigado com a figura misteriosa ele começa a procurá-la, quando a encontra começa a persegui-la até, por incrível que pareça desenvolver um caso adúltero com ela. Porém ele é um homem cheio de dúvidas, problemas, ciúmes e inquietações que consomem toda a narrativa sobre a natureza daquela relação, mais até do que os momentos bons com ela. Só existe a dor que a mulher produz nele, contudo esta é uma dor que não possui lógica, basicamente é um recorte da loucura do próprio personagem que progride até o derradeiro ato da qual ele não se sente culpado, mas fica intrigado com a palavra Insensatez que lhe proferem, motivo que ele ainda ao final do livro procura explicar, pois em seu relato ele procura demonstrar que a razão foi dele.

A genialidade da narração fica por conta dessa lógica do discurso de Juan Pablo, que pega o niilista moderno em nós e cria uma ponte de identificação com este leitor. depois te leva por esse túnel escuro da mente do personagem pelo mesmo timbre até Juan Pablo começar a fazer associações como esta:

“Fiz repetidos esforços para posicioná-los na ordem correta, até conseguir formular a ideia desta fórmula terrível: Maria e a prostituta tiveram uma expressão semelhante , a prostitua fingia prazer; portanto Maria fingia prazer. Maria é uma prostituta.

- Puta, puta, puta! – gritei saltando da banheira.”

Se isso fez algum sentido, vá ao hospício rapidamente. É um livro perturbador, pois até o último minuto nós queremos que ele se arrependa ou que os motivos do crime façam um sentido mais palpável em nossas cabeças. O que há é um túnel escuro em direção a loucura, em dado momento da leitura você toma conta da inevitabilidade desta direção mas não tem como parar. É um livro terrivelmente bom.

Um comentário:

bones disse...

será que tenho que começar a me preocupar com o que vc anda lendo????