França. Direção: Alain Resnais. Elenco: André Dussolier, Sabine Azéma, Pierre Arditi, Isabelle Carré.
Vocês sabiam que Cavaleiros do Zodíaco não foi um sucesso no Japão quando em sua estréia em 1986 até foi cancelado em 1991 em função da audiência? Contudo quando foi lançado para o mercado ocidental se tornou um fenômeno e principalmente aqui no Brasil, tanto que posso dizer que faço parte da geração que curtiu as aventuras de Seiya. As pessoas que seguem o que escrevo sabem que as pontes que faço tanto aqui n’O Espanador são um tanto quanto improváveis, contudo creio que estou fazendo a maior insanidade escrita ao começar este post de um filme cult francês com um anime popular da década de 90. Mas o fato que quero salientar não é nenhuma comparação estético-artística entre as duas obras, mas sim de fenômenos entre o público. Se cavaleiros ainda passa toda a manhã desde seu lançamento em meados da década de 90, Medos Privados é recorde de público do Belas Artes desde meados de 2007 quando foi lançado.
Por que esse fascínio? Posso garantir que Medos Privados (Coeurs) fora um filme praticamente normal em seu país de origem, logicamente que foi um sucesso devido ao renome do mestre francês Alain Resnais, tanto quanto qualquer lançamento de um Martin Scorsese ou Woody Allen mobilizam a crítica mesmo que não estejam em seus melhores momentos. Entretanto nos países ocidentais ele foi igualmente bem visto, e 3 anos e meio depois ainda é sessão garantida em São Paulo, e olha que no dia de hoje acabei de consultar para saber se está passando. Dentre a obra de Resnais é um filme muito mais “normal” que as evoluções estéticas da década de 60 ou do recente Ervas Daninhas.
A trama…bem… Não existe basicamente uma linha narrativa única. São seis personagens vagando por uma Paris em neve, cada um com sua solidão e desejos de amor. Se há uma linha narrativa que une parte deles, é Thierry (o grande André Dussolier), que tem uma secretária recatada (Sabine Azéma) que de noite cuida de enfermo na base do desejo sexual sadomasoquista (?!!!), e que passa noite entre o tédio e a experiências com vídeo pornô que dá para dar muitas risadas. Ele tem uma filha que se arrisca em encontros às escuras. Há também um casal prestes a se separar, e um homem que vive no bar,e algumas situações inusitadas. Podemos dizer que não há um começo propriamente dito no filme, que retrata a vida como ela é, contudo posso garantir que há um fim na belíssima cena de Sabine conversando em um cômodo com neve caindo. Surreal e poético.
Entretanto como disse o filme é essencialmente simples. Talvez esse seja o segredo de seu sucesso aqui, pois apesar de se passar em uma Paris no inverno ele é tão honesto com relação ao amor contemporâneo e suas impossibilidades, tão certeiro nas pequenas tristezas e felicidades da vida que é impossível não se identificar com a vida em São Paulo, ou em qualquer grande metrópole. Resnais é mestre.
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