segunda-feira, 7 de março de 2011

Enter the Void – Gaspar Noé

 

enter-the-void-poster_280x415 Esperei umas 24 horas para fazer essa crítica. Sei que é clichê falar, mas esse filme realmente the consome e choca de uma maneira impressionante. Não era pra se esperar menos, afinal o diretor é nada menos o cara que fez uma cena de estupro de 12 minutos em Irreversível, que é a alma do filme para o bem ou para o mal. E se Irreversível também se apoiava na história contada de traz pra frente como inovação estética, toda a “viagem” do protagonista em Enter the Void é uma experiência sensorial brutal.

Após seu começo para matar epiléticos com todo o neon possível em uma abertura de filme, somos apresentados a protagonista na primeira pessoa, em seu apartamento com a irmã, seus pensamentos e suas drogas, em especial uma chamada DMT. E como estamos na primeira pessoa a experiência DMT é uma coisa psicodélica que dá o tom no filme, logo imagens invadem de uma colorido suave que lembram uma tela Beatriz Milhazes, o que me faz imaginar que esse filme em 3d deve ser a verdadeira experiência química na tela do cinema, enfim… caímos na história na primeira pessoa de novo até o nosso protagonista ser assassinado pela polícia. A partir daí a experiência começa a ficar mais intensa e perturbadora.

Já havia no subtexto do filme uma clara intensão de abordar a morte e a vida após dela, e é exatamente isso que acontece com Oscar. Morto no banheiro nojento de uma bar chamado The void, ele sai do corpo e começa a sobrevoar uma Tóquio iluminada e ver como as vidas das pessoas vão continuando depois de sua morte, sempre do alto e com uma câmera incessante que não para de dançar. Mas Gaspar vai mudando a todo o momento o nível da linguagem visual. Na maior parte do tempo temos essa narrativa, mas ele consegue entrar na cabeça das outras pessoas e ver que elas estão vendo, também rememora sua vida em uma semi-terceira pessoa (Nós só vemos suas costas), imagina sua ressureição e é lançado em imagens surreais que podem simbolizar a vida após a morte a todo instante.

Acima das inovações estéticas, a trama sentimental principal do filme é o relacionamento do protagonista com sua irmã, unidos num pacto de sangue na infância, ele não consegue abandonar ela e o centro do filme é ver como a vida desta personagem se desfaz sem seu irmão. Dentre as muitas cenas fortes do filme (incluindo um aborto horrível) a história de Oscar (ou o espírito de Oscar) não só rompe os limites da narrativa no visual, mas também no roteiro que caminha ao seu final em uma sucessão que oscila entre a fantasia e realidade, o poético e o pornográfico e é o teste final aos nervos do espectador. E assim como Irreversível, você pode não concordar com o nível de força que Gaspar coloca na poesia de seu final.

Toda a história também tem como pano de fundo fazer um retrato verossímil da juventude louca, em que as drogas e o sexo são os motores da vida. Não existe julgamento porém. A única posição que o diretor parece tomar é demonstrar a vida como algo duro e triste. Enter the Void apesar de ter uma mensagem de vida em seu final é um filme que mostra o que mais duro há nela. Fantástico.

P.S. Não tem data para sair no Brasil, assim como Desejo e Perigo, vamos demorar muito para ver esse filme em tela grande.

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