segunda-feira, 21 de setembro de 2009

GAROTO NO CONVÉS, John Boyne


O homem riu e deu os ombros 'Bom, eu reconheço que nunca tive o toque criativo. Sou mais patrono o que artista. Mas, se eu fosse contar uma história, acho que tentaria encontrar a situação primordial, aquele ponto singular na narrativa que põe tudo em movimento. Eu procuraria esse momento e começaria a história a partir dele.'”

Com floreios metalinguísticos John Boyne, começa sua segunda incursão ao romance e utilizando um interlocutor jovem novamente, o que nos leva a pensar quase que automaticamente em oportunismo, vide que O Menino do Pijama Listrado já virou até filme em pouco menos de 3 anos de vida. O que não se confirma ao ler essa aventura, pois parecem ser dois estilos completamente diferentes, se o Menino tem em sua concepção um menino inocente, com alta carga de sentimentalismo e em sua brevidade a força para arrebatar o leitor, John Jacob Turnstile não tem nada de inocente em suas piadas e em sua vida, cria um romance gigantesco em que temos humor, um tom pesado que o afasta da literatura juvenil e sem um pingo de sentimentalismo. Ponto pra ele. Na verdade o oportunismo foi o marketing do lançamento com o layout similar na capa, como vocês podem ver, e um título que também remete ao primeiro sucesso (o título original seria Motim no Bounty), o que é válido e não é um desrespeito a obra.
Em todo caso Menino do Pijama para desespero dos insensíveis já um clássico moderno, o que não podemos dizer do Garoto no convés, uma ótima aventura mas não passa disso. O livro começa com nosso interlocutor assaltando um homem e sendo preso, contudo acaba trocando 1 ano na prisão, por 2 anos a serviço de um navio inglês, nada menos que o Bounty de William Blight, imortalizado na história naval pelo motim e pelo filme dos dinossauros Charles Laughton e Clarke Gable, alias um clássico indispensável para qualquer um que curte cinema, e a história do motim é que será reencenada sob a ótica do adolescente. Ponto número 1 do livro é criar um personagem carismático que não deixa o interesse pelo livro cair, com sua insolência e humor estranho, quase caricato, alias durante uma boa parte do livro parecem que os personagens são caricaturas em um romance de Dickens. O ponto número 2 para o livro é gerar uma narrativa marítima, em um mundo em que esse tipo de narrativa está quase esquecida, é como fazer um western para blockbuster de verão (!) e ainda sim fazer algo decente. O ponto 3 e acho que é onde está a força do livro ao mesmo tempo que seja um clichê, é reconstruir o motim no Bounty de forma inversa ao que é lembrado, com o capitão sendo um homem ambíguo mas bom, Fletcher como o tradicional vilão e muitas outras personagens inesquecíveis. Aventura marítima, outro personagem criança e um clichê de inversão de história conhecida. Isso não deve dar um livro bom. Mas deu! O livro é ótimo, constrói direitinho a história até o ocorrido, mas ele realmente te arrebata quando é descrito os 48 dias de sobrevivência no barquinho em alto mar de maneira realista e escatológica que dissipa qualquer sensação de caricatura que possamos tido (eu tive e acho que é proposital, o que deixa essa parte ainda mais dramática). O único defeito do livro é tentar complicar demais a psicologia do menino, que em dado momento descobrimos que sofria abusos sexuais, sendo um garoto de programa além de batedor de carteiras, o que se mostra um trunfo elegante a primeiro momento se transforma em algo repetitivo e levando a um epílogo desnecessário, o que não chega a ofuscar a diversão do romance em uma época em que tudo é introspectivo, até os vampiros, é bom encontrar uma aventura que mostre mais o exterior da história e seus desdobramentos, mesmo assim temos algumas críticas ao pensamento da época que pululam levemente no texto. Ótimo romance e boa diversão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sinceramente.. li o livro e não achei espaço para crítica. Excelente qualidade e espero mesmo que vire filme como sua obra anterior. Acha que este livro pode tornar-se um filme? abraços.

Rafael Menezes disse...

Acho que daria um ótimo filme, mas acho que não vai rolar... a única adaptação do Boyne "O menino do pijama" foi massacrado pela crítica e pelo público, e nesse ramo essas coisas influenciam.
abs,