segunda-feira, 2 de novembro de 2009

LUUANDA, José Luandino Vieira


Ao ganhar a independência a custo de muito sangue, a imprensa entrevistou Luandino perguntando se agora o povo angolano voltaria a falar e escrever em quimbundo, Luandino respondeu que a língua portuguesa seria o troféu de guerra. Luandino está para Machado de Assis no desenvolvimento da literatura angolana tal como ela é hoje, e este é seu livro mais significativo, seu domínio da linguagem é indiscutível. O livro escrito entre 1962-63, enquanto o autor esteve preso, ganhou um grande prêmio de incentivo à cultura em 1963, e menos de um dia depois a polícia aprendeu a comissão julgadora do evento e proibiu a circulação do livro, que a partir daí teve sua fama feita e a circulação clandestina competia com Jorge Amado e Graciliano Ramos, igualmente proibidos na Angola portuguesa. O livro só conseguiu ser publicado em Portugal em 1973 (ironia), ou seja após a queda de Salazar, o ditador poe excelência, e também recebeu grandes prêmios literários para logo depois ser publicado em Angola ao grande publico já liberto e com a fama de clássico antes mesmo das pessoas ao qual o livro se dirige conhecerem a obra.
Para aqueles que adoram ler livros que causam polêmica este seria um prato cheio, mas é bom tomar cuidado para não terminar a leitura e não entender porque este livro foi tão censurado e nem pensar a respeito. Luuanda é um grande livro que basicamente traz três estórias: O relacionamento entre uma avó e seu neto durante um dia inteiro em que a fome os assola e o menino não consegue achar emprego, uma caso de roubo de patos e papagaios (?) que termina com os praticantes do crime presos e uma disputa de duas vizinhas a respeito de um ovo. A primeira história é mais tocante, a segunda é confusa e e engraçada, a terceira engraçada e fantástica e o livro termina. Subversivo, não.
Primeiramente queria informar que os três contos são os melhores que nossa língua permite e isso já bastaria para colocar o livro no panteão de obras clássicas, mas todas as proibições tinham fundamento na época, pois a princípio o livro era um ultraje ao uso da língua pois estruturalmente, lexicalmente e morfologicamente Luandino mistura português e quimbundo ao nível da fala, tal qual Guimarães Rosa nosso conterrâneo, a começar pelo título até seu final. Estruturalmente podemos relacionar as três estórias de várias maneiras do relacionamento entre as idades, a vida no musseque, e na minha interpretação de uma maneira muito forte com a fome que o povo angolano passava dia a dia quando colônia de Portugal e isso, carregado na ironia de tratar de estória (ou seja não é real), era uma fronte ao governo Português.
Tal com a metáfora do cajueiro há várias maneiras de interpretar o livro, não sei se no final ele escreve em português, ou se em Luandinês, mas o fato o fato é que maravilhosamente tecido em clássico.

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