quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

ABRAÇÕES PARTIDOS, Pedro Almodovar

 

   abraços partidos

     Existem muitos casos de amor platônico entre o diretor e seus atores: Woody Allen e Diane Keaton, Ingmar Bergman e Liv Ullman, Alfred Hitchcock e Grace Kelly, Felini e Marcelo Mastroianni. Atualmente podemos dizer que as obsessões estranhas de um certo diretor espanhol começaram a se centrar na esbelta figura de uma musa clássica: Penélope Cruz.
    Não por menos. Penélope é a diva não só de Almodóvar, mas de nove entre dez indivíduos do sexo masculino, e para certas mulheres também. Em Volver seu trabalho tinha sido nada menos que extraordinário, em Vicky Cristina ela roubou boa parte da projeção para ela. Se no primeiro a protagonista era sua personagem durona e sentimental, e no segundo a coadjuvante do filme de Woody é essencial para as múltiplas confusões da trama , nesse novo filme de Penélope a atenção é só pra ela, gira em torno da obsessão de um diretor por sua protagonista. Nada mais metalingüístico do que uma declaração de amor escancarada por parte de Almodovar.    Talvez a palavra para descrever este filme seja esta: a metalinguagem a que se propõem. Um diretor nos tempos atuais ganha a vida escrevendo roteiros. Seu drama é a cegueira que o atingiu em algum ponto de sua carreira e o impede de continuar dirigindo, tanto que adota um outro nome, um pseudônimo que utilizava e encarnou em seu verdadeiro ser. Mas nada de coitadinho, ele se vira muito bem sem a visão. Alias começa a projeção levando uma loiraça para a cama só com a lábia.
    A morte de um empresário o faz relembrar a história da realização de seu último filme, um fracasso de público e crítica e a figura de Penélope, atriz principal do longa casado com um magnata poderoso e obcecado por ela. Penélope e o diretor se envolvem em um tórrido caso amoroso que será a tragédia que o longe sugere. Nada de mais no roteiro, porém as vezes em Almodóvar o que basta é sua realização. As cores fortes, característica principal do diretor estão em sua força máxima, e em cada close diferente em Penélope encontra um declaração de amor não só à bela espanhola, mas à varias musas do cinema como Marilyn, Audrey (principalmente está), Grace Kelly e a lista é extensa. Nada mais lógico, dentro da estrutura ao que se propõem, pois carrega consigo um certo poetismo vide ao fato de Mateo não enxergar, então cada cena de sua lembrança é construída para entrar na memória.
    Ao final do filme suas homenagens chegam ao máximo, ao fechar a cena com a despedida de Mateo à sua amada, um abraço de 17 anos que só se completa agora. E Mateo tem a chance de finalmente montar o filme que queria realizar, mesmo cego ele recomeça o trabalho e a cena que nós vimos ser realizada  trilhões de vezes, aqui parece montada sem os erros e sem a trama ao qual ela se constituiu e o resultado é uma cena engraçadíssima que é nada mais que um homenagem ao seu próprio filme de 89. Mulheres à beira de um ataque de nervos. O filme que revelou Almodovar ao mundo.
    Bem... Em um ano de egos pequenos como um filminho de Tarantino em que ele encerra a projeção dizendo que fez a obra-prima, Almodovar homenagear a si mesmo faz parte da festa. Com certeza esse não é o trabalho mais significativo de Pedro, mas com certeza deve ser o mais pessoal, e se você não liga para nada disso, temos Penélope, que é motivo suficiente para qualquer um.

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