segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Moedeiros Falsos, André Gide

 

Moedeiros falsos_2.indd Quando li Os subterrâneos do Vaticano, fora porque eu tinha ouvido falar bem do livro em minhas excursões pelas várias listas de melhores livros do mundo, e também porque em uma de minhas habituais idas a sebo no começo do ano eu tinha achado uma edição de 1971 à preço de banana, o que era um sinal divino para a aquisição e leitura. Creio desde essa época eu não vejo uma edição de qualquer livro de Gide nas nossas livrarias, muito menos nos sebos. Agora na passagem de ano, uma das melhores editoras nacionais de literatura resolveu republicar a obra de Gide em traduções nacionais lançando quatro títulos de uma vez incluindo o já citado com nova tradução, Os Porões do Vaticano.

Os Moedeiros falsos é sua obra mais importante no âmbito do panorama mundial. é romance sobre a construção do romance e também sua primeira obra que mexe com o homoerotismo explicitamente, tema que será recorrente na década 20 e tem como ápice o livro Corydon, um tratado em prol da liberdade sexual.

Moedeiros acompanha vários personagens pela ruas de uma Paris do começo do século, todas elas transitam pela arte e pelos relacionamentos humanos. Os fios condutores são Bernard, um menino que se descobriu bastardo e fugiu de casa para vencer na vida sozinho. O amigo deste, Olivier, um menino a qual todos reconhecem ter um grande talento para artes e será disputado no decorrer do romance por todos os personagens, e tio de Olivier, Edouard, um escritor famoso de meia idade que tem uma paixão platônica e sonha em escrever um  romance de ideias, Os moedeiros falsos, assim com Velásquez pinta a si mesmo no quadro das garotinhas ou Charlie Kaufman, explica o processo de construção de um roteiro no fantástico Adaptação, a grande sacada deste romance é esse espelho que faz com a obra que está lendo, sendo que o personagem principal é Edouard, reflexo claro de Gide.  Edouard quer escrever um romance sobre a vida, totalmente real, mas que não tenha uma história propriamente dita, em parte é a estrutura do romance visto que em dado momento há tantas coisas acontecendo que você não sabe mais qual é o fio narrativo principal, contudo o livro não é completamente solto de um estrutura sendo que as histórias que o iniciam tem um final, outras desaparecem no interior da narrativa. O capítulo principal para que isso aconteça é o final da segunda parte em que o narrador comenta cada um dos personagens que criou, como se estivesse impotente para modificar seus atos, e outros ele resolve não falar mais na terceira parte como é o caso de Lilian.

Dentro da sub-histórias, temos um homem querendo reencontrar o neto. Este sendo uma criança fechada e tem uma relacionamento bonito com uma outra menina. Um escritor vaidoso que todos odeiam, a paixão de Edouard estando grávida de um adultério, o irmão mais velho de Olivier como conquistador barato, e o mais novo se encarregando ao final do livro de dar um sentido ao título sendo que ele põem em circulação moedas falsas na cidade. É um livro de difícil classificação visto que flerta com todos os gêneros, e ao mesmo tempo não pertence a nenhum, de uma habilidade narrativa extrema e de um final perturbador que de tão sombrio sua significação, pessoalmente, me remete ao lado negro da vida que é velado em várias histórias. No todo o livro constitui um panorama sobre a vida dos indivíduos na cidade  e na incapacidade da arte de conseguir retratar de maneira real os fatos da vida. Edouard diz que não usara a tragédia que se abate aos personagens no final do romance, por questões morais e pessoais, mas já está lá descrito pelo narrador, as limitações que Edouard põem ou quer colocar em sua obra é aquilo que impede de escrever e sobre as diversas fases da escrita do romance este livro é um primor da metalingüística. Vale a leitura, um clássico sempre vale.

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