sábado, 23 de janeiro de 2010

DEIXA ELA ENTRAR, Tomas Alfredson

 

deixa-ela-entrar2 Os clássicos podem aparecer de algumas formas, mas sobretudo de três maneiras. Ele já vem com cara de filme grande, gera muitas expectativas e muita gente torce pro maldito afundar mas não consegue, como exemplos práticos temos desde E o vento levou até o recente Avatar. Também podemos ter aquele filme que é descoberto depois em dvd mesmo, como À espera de um milagre e tem aquele filme que escapa de todo radar cinematográfico em alerta, normalmente uma produção pequena que se destaca por sua ousadia, caso do recente Distrito 9 e desta pérola sueca.

Em tempos em que o conceito original de vampiro está sendo reinventado a cada dia, sendo que, recentemente, sua pele virou diamante (vocês nunca pararam para pensar como isso é herético!?), é bom ver o velho mito em tela grande tal como foi criado, inclusive a regra mais estranha que as histórias costumam ignorar, que é a de que um vampiro só pode entrar na casa de alguém se for convidado. Alias, a última vez que vi alguém respeitar isso foi em Buffy, a caça-vampiros, os vampiros eram parados por alguma barreira invisível na porta das casas dos moradores de Sunnydale sendo que essa até hoje era a interpretação mais plausível para essa parte da lenda, contudo devo informar que Tomas alfredson criou uma cena muito mais fantástica para explicar isso. Alias, creio que todo o filme deve girar em torno dessa cena, tanto é que o título do filme se remete a esse detalhe.

Oskar (Kare Hedebrant) é um menino de 12 anos, sensível e infernizado dia-a-dia pelos valentões da escola. Em sua casa ele fica imaginando o dia em que vai se vingar. Eli (Leni Leandersson uma promessa de grande atriz) é uma vampira e sua nova vizinha, também de 12 anos mais ou menos. O filme não te enrola. Ele vai direto ao ponto por meio de um terceiro personagem que é o pai de Eli, um sujeito atormentado pois se tornou um serial killer, visando proteger sua menina. Antes dos minutos iniciais ele já está assassinando um jovem para coletar sangue, contudo ele já está demasiadamente conhecido e seus ataques costumam a não dar certo, sendo que em dado momento Eli vai ter que se virar sozinha. Parte do drama é que os vampiros não são seres  bonzinhos que podem comer outra coisa, ou podem só tomar sangue de animais, eles tem que sugar sangue humano e fresco! A genialidade é que, assim como Freud inaugurou a psicanálise e Otto Lara Resende fez um clássico da literatura  nacional ainda não descoberto (A boca do inferno), o filme nota também que as crianças não são boazinhas. Isso pode ser visto tanto na gangue de pentelhos que enchem o saco do protagonista, quanto na imagem que Eli faz do mesmo. Não há nada de bonitinho no mundo infantil do filme, a única coisa tocante é o relacionamento que vai se desenvolvendo entre os dois protagonistas.

No todo o filme é uma história de amor infantil, tão interessante quanto o clássico da sessão da tarde Meu primeiro amor, e se não mais tocante. Há algumas transgressões interessantes na estrutura desse romance, pois ao mesmo tempo em que temos a ingenuidade própria da idade há um relacionamento que transcende  o básico, um amor platônico que fica no silêncio entre os dois, ou sentimentos mais sensuais entre os dois como Oscar expiado Eli trocar de roupa, ou ela própria se embrenhando nua em sua cama.

E logicamente a genialidade maior reside no diretor que consegue combinar gêneros variados na sua obra. Sim, é um romance. Macabro, mas um romance. Contudo ele  combina isso um verdadeiro encadeamento de assassinatos e cenas fortes com uma suavidade incrível. Você não abstrai desta história que em certos pontos refletem as sutileza dos gestos dos protagonistas e em outras surge um homem deformado caindo 7 andares abaixo. Essa talvez a principal qualidade da obra, a sua direção competente. Tomas lembra muito Wong Kar-Wai na relação dos personagens com o espaço, ou como o espaço físico reflete as personagens em certos momentos, mas ainda tem pulso firme para criar a tensão, simulando a violência mais do que mostrando-a. No final do filme isso fica ainda mias claro, pois ele vai aos extremos desses dois tópicos sem perder o filme.

Um romance fantástico, vale muito a pena assistir. Só para salientar ele já ganhou 57 prêmios desde sua estreia em 2008, sendo que está indicado ao Bafta de Filme estrangeiro deste ano. Quando vai estrear? Estreou em setembro, só na rede Unibanco de cinemas.e ainda está passando em uma sessão especial há 00:00 de sexta a domingo, vale salientar que sessão especial no Unibanco é coisa chique, e que romance tocantes com genocídio no meio é algo único e que a Suécia é terra do Bergman e do Nobel e… é muito bom! 10.

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