segunda-feira, 5 de julho de 2010

CACHALOTE, – Rafael Coutinho & Daniel Galera

 

cachalote_Ok.indd “Minha vida acabou. Eu não sou mais nada. A gente para de prestar atenção um instante, e de repente está sozinho (…)Por que ele fez isso? Aquele quarto de hotel apavorante, o toque de telefone… ele disse que me amava”

 

 

O toque de melancolia é que resta ao final da leitura do quadrinho Cachalote, projeto épico que gerou um expectativa grande por reunir um romancista promissor, Daniel Galera do estranho Cordilheira, e o primeiro trabalho de mais fôlego de Rafael Coutinho, que nada mais é do que o filho de Laerte. O livro seria um dos grandes lançamentos do Quadrinhos na Cia, selo da Cia. das letras, na Flip de 2009 Rafael já divulgava que estava quase pronto, três meses depois a Cia. colocou a primeira data de lançamento que furou e só no meio deste mês após várias desventuras o livro chegou as livrarias. Acho que fazia tempo que não via uma badalação tão grande por um quadrinho nacional e devo dizer que é muito interessante, ainda distante de um Jimmy Corrigan, Sandman ou qualquer Will Eisner, mas fascinante.

A trama de Cachalote gira em torno de cinco histórias envolvendo cinco homens em situações distintas: 1 - Um ator de ação chinês se torna o principal suspeito da morte do amigo. 2 – Um escultor durão aceita se tonar ator de um filme sobre um escultor durão. 3 – Um jovem que adora amarrar suas parceiras sexuais encontra o amo em um jovem muito frágil como cristal, literalmente como cristal. 4 – Um executivo é expulso de casa para Paris pelo tio por ter dormido com a mulher dele. 5 – Um casal divorciado conversa nas vias públicas sobre depressão, vida que continua entres outras coisas. Como essas histórias se ligam? Essa é realmente um boa pergunta! O traço naturalista de Rafael é ótimo, as histórias quando analisadas separadamente tem ótimos personagens, ainda assim existe uma sensação de gratuidade dentro da história que não se separa do graphic, porque as linhas que as unem são muito finas e sutis (ou as vezes inexistentes!)

Podemos começar pelo óbvio: A busca por entender em como se foi parar nessa situação, se encaixa no caso do chinês, do executivo, do escultor, mas não encaixa no jovem que está num relacionamento amoroso e no pai divorciado que só quer seguir com a vida. Podemos liga-las pela relação amorosa desenvolvidas no escultor pela rejeição, no jovem pela paixão sexual, no casal divorciado pela relação conjugal, em certo ponto na história do chinês que supõem uma relação homoerótica nunca desenvolvida e no executivo exatamente pela falta desta. Essas ligações são bem tênues e nunca se encaixam totalmente, mas existe um fato no livro que pode ser a chave do enigma: Há uma sexta história que abre a graphic e a fecha, a qual vou narrar brevemente pois parece uma fábula:

Uma senhora muito idosa está grávida e pula na piscina para nadar, parece que vai parir a criança quando um cachalote (para que não sabe, um cachalote é maior baleia do mundo, Moby Dick era uma cachalote albina) aprece na sua piscina!. Ela o acaricia. No final da história, ela e a criança estão na praia, a criança brinca com um cachalote de brinquedo, quando subitamente ela levanta, abraça a senhora se dirige ao mar e não volta mais.

A imagem do Cachalote aparece outras vezes esparsas no quadrinho, contudo essa fabula que parece ser uma chave interpretativa que mostra muito dos ganhos e perdas na vida do ser humano, e as cinco histórias parecem dialogar com perdas e ganhos a sua maneira, mais especificamente no âmbito familiar. Porém essa é só uma hipótese de interpretação, a primeira página do quadrinho remete as últimas da história, o que é velha da cíclico e para convidar o leitor a uma segunda leitura. Eu vou esperar digerir a primeira, depois eu faço a segunda e vejo se alguma coisa mudou. Fato é que tempo não será perdido na leitura deste quadrinho, s combinações possíveis são várias e a melancólica de suas últimas páginas o fazem ficar imaginando o que esta escondido nas entrelinhas.

Um comentário:

Matias Minduim disse...

Acabei de ler Cachalote, não amei, mas também não achei de todo mal.
Digno