quarta-feira, 21 de julho de 2010

HOTEL NOVO MUNDO, Ivana Arruda Leite

capa_hotel_novo_mundo Me ajoelhei no último banco e pedi que Deus tivesse piedade das menininhas loiras e pobres que tem defeito no coração e dos menininhos negros e pobres que precisam tirar um rim; que Ele desse forças as mães que dormem encolhidas velando  por seus filhos pobres e doentes; que cuidasse com carinhos dos veados que adoecessem por amor (…) finalmente que a graça do Espírito Santo recaia sobre as prostitutas e ex-prostitutas, para que entrem no reino do céu.

 

Esse trecho demonstra a curiosa combinação de bom humor, ironia, um naturalismo brutal e realidade social que permeiam as menos de 120 páginas desse pequeno e singular romance.

Hotel Novo Mundo narra a história de uma mulher que foge do Rio de Janeiro, do marido rico em uma atitude impulsiva, ela acaba no hotel que dá nome ao livro e encontra todos os personagens singulares que são a alma do livro. Renata, a protagonista e o primeiro personagem brilhante do romance, em poucas linhas aparece como uma ricaça frustrada, traída e brava, mas que já fora uma prostituta e está fugindo da vida basicamente com a roupa do corpo. Quanto mais nos vamos entrando a vida dessa mulher mais a antítese social vai aparecendo.

Fazia muito tempo que eu não via um livro com um tom tão naturalista quanto este e tão agradável ao mesmo tempo. Normalmente a linha dos romances à la Zola, gostam de retratar todos os conflitos sociais, problematizar todos os ângulos e centralizar o foco em alguma ideia específica, sem deixar. O romance de Ivana não dá nenhuma chave, não tem nenhuma ideia específica e apesar de todos os personagens terem vários problemas, o contexto todo é muito light.

Vamos ver os demais personagens: César, o marido-galinha, galã e oportunista. Divino um sujeito baixinho e careca que se aproxima da protagonista. Jurema, tem uma paixão platônica não correspondida por Divino desde criança. Ritinha, menina sapeca que está com problema cardíaco e tem convulsões. Leão, um pianista de Boate gente boa. Cecília, filha de Leão que o conheceu com 8 anos e namora uma psicóloga. Zema, estilista gay com o vírus da HIV, seu namorado Lauro que é pai de santo, Genésia a dona do Hotel e a lista continua… Todos personagens singulares com seus dramas individuais, todos narrados com um humor muito irônico da narradora mas que se permite a insights de reflexão nas entrelinhas dos causos.

O livro se permite a narrar uma semana na vida dessa personagem até ele decidir iniciar a nova vida dela. Podemos até dizer a maioria das subtramas não termina, mas esse é exatamente o propósito que parece dizer à la Nelson Rodrigues que a vida do que jeito que ela é. Em um momento em que temos muita prepotência nas Letras Nacionais é muito bom ver um romance simples e direto, muito agradável de se ler e que parece ter alguma coisa escondida que ainda não revelou a mim, mas posso dizer que é muito interessante e engraçado.

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