quinta-feira, 24 de junho de 2010

KICK-ASS

 

KickAssPoster O cinema é fantástico! É  ótimo conhecer filmes que nos inspiram a dizer tal coisa, e ontem fui assistir mais um filme que possivelmente não será descoberto no cinema, que vai se tornar e que muito crítico de cinema vai torcer o nariz, também. Kick-ass é maior zoação com o universo do super.-heróis desde que a explosão de adaptações começou alguns anos atrás e se temos filmes que fundaram a fórmula (X-MEN, HOMEM DE FERRO)0 outros que a subverteram (Cavaleiro das Trevas, Watchmen) experimentos estéticos (SIN CITY) e fracassos colossais (não precisa mencionar né), temos agora também um filme que fica na metalinguagem do gênero. A premissa é bem simples: NO mundo não existem super-heróis certo? Mas tem muitos idiotas? Então como nenhum idiota nunca tentou ser um super-herói? Nosso “herói” vai tentar fazer essa experiência e se tornar um herói de verdade no nosso mundo de verdade para ver o que acontece.

Um parêntese necessário, Kick-Ass é uma adaptação fidelíssima de um quadrinho real idealizada pelo Midas dos quadrinhos Mark Millar, então história maravilhosamente cínica que vemos na tela é produto da mente desse infeliz.

David como é um jovem que não está nem entre os bonitões ou entre os cdf’s é simplesmente um zero a esquerda e imperceptível. Um belo dia ele resolve se tornar um super-herói e compram a ridícula roupa de mergulho, como seria qualquer roupa de super-herói se fossem traduzidos ao pé da letra pelo cinema e sai em combate ao crime. Ele quase morre! Enquanto isso um pai e sua filha passam as noites em atividades divertidas se preparando para ser super-heróis também, mas um tipo mais profissional que não deixa ninguém vivo.

David poderia ter colocado alguma sanidade na cabeça, mas resolve sair como Kick Ass novamente na roupa de mergulho e dessa vez ele consegue se sair bem e, a grande sacada é que ele é filmado e se torna o vídeo mais assistido no Youtube ganhando fama rapidamente. A partir daí o roteiro vai se tornar cada vez mais original juntando Kick Ass, na velha passagem da adolescência, um mafioso que será o grande vilão da história e os personagens d pai e da filha, que também se fantasiam de Big Daddy (o pai, interpretado por Nicholas Cage), uma espécie de Batman, e a Hit Girl (a filha, interpretada por Chloe Möretz) que tem 12 anos e é maior máquina de extermínio que o cinema já apresentou.

O filme tem vários pontos positivos mas eu vou salientar dois. 1º A direção da historia oscila entre pontos extremos com muita segurança, pois quem viu o trailer acha que é uma comédia, e tem muito humor negro, tiração de sarro e autorefência na história, ao mesmo tempo é um filme extremamente violento, não uma violência de deboche mas uma violência realística, e ainda tem cenas de drama realmente tocantes. São pontos extremos todos convergindo de maneira brilhante dentro da mesma história que é a base dessa experiência.

O segundo ponto que merece ainda mais destaque é a atriz Chlöe Moretz que rouba o filme para ela. A personagem da Hit Girl, tem 12 anos, fala palavrões de calibre (- Sim o prefeito tem um sinal luminoso no céu para nós. Ele tem a forma de um cacete gigante); mata violentamente pelo menos uns 40 atores,  é muito carismática e ela consegue não ser uma caricatura. A melhor personagem e atriz do longa.

por ser totalmente amoral, faz até sentido que ele não tenha feito sucesso no circuito comercial, mas com certeza tem uma vida longa sendo descoberto por “acidente”. Se você ainda tem tempo vá ver antes que saia de cartaz.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

PASSAGEM TENSA DOS CORPOS, de Carlos de Brito e Melo

passagem Sabe quando você vê uma ideia brilhante que te faz pensar em como esse livro deve ser interessante e denso, você fica até excitado com a possibilidade de ler algo diferente e descobrir um novo autor, quando muito um clássico contemporâneo ou esquecido.

Isso aconteceu comigo pelo última vez ao ler O Vento da lua, quando o caminho foi o inverso: ao não esperar nada do livro eu me encantei com a beleza daquela prosa. Você passa muito tempo procurando um livro que possa lhe transmitir essa sensação de alumbramento novamente e eis que eu encontrei um forte candidato pela ousadia de sua história: No inteiro de Minas uma espécie de espírito vaga relatando mortes tanto naturais quanto assassinatos, até que em certo ponto encontra uma situação inusitada. Uma família que tem o pai envenenado ignora a morte deste e coloca o cadáver amarrado na sala como se nada tivesse acontecido.

Ótima história no resumo. Na realização porém, o  livro é muito enrolado e simples, por mais que a escrita se proponha ao lirismo. Não que o livro seja ruim. Ele está bem longe de ser ruim mas creio que um podemos tirar 100 das 248 paginas e conseguiríamos contar a história com um pouco mais de impacto.
O espírito (vou colocar espírito, mas o que o romance sugere é que seja uma língua?) não consegue sair da casa enquanto as pessoas da família não reconhecerem a morte e iniciaren os ritos fúnebres. A mãe está preocupada em conservar sua beleza, a filha em preparar o casamento contudo não há noivo até o momento, e o filho está trancado no quarto se recusando a participar da experiência.

A linguagem é bela e as mortes que são relatadas no meio dessa histórias central estão cheias de significado simbólico, o romance ainda tem um final aberto que casa a história deste morto preso entre a vida e a morte, com a do narrador também preso entre a vida e a morte.

O que nosso interlocutor quer mesmo é, por meio de sua narração, recuperar um corpo para si, já que outrora morrera o que logicamente direciona a narrativa para várias leituras metalingüísticas. Os problemas da história são a demasiada retomada nas descrições, a princípio desse ser que é um fantasma constituído de linguagem,  e que é descrito umas 10 vezes no mínimo, e também  as várias mortes narradas cortando a história principal. Mas o fator determiante para se cortar 100 páginas do livro é a falta de acontecimentos dentro da história já que nada muda: o menino nunca sai do quarto, a menina só fala em casamento, o narrador só reclama das condição de sua existência e até que isso se resolva vão páginas de abstração.
A idéia é ótima, mas ele acaba se saindo muito simples em sua concepção. Acredito que é a maior força do livro esteja em sua linguagem fluida de um poeta nato e apesar de ter 248 páginas é muito rápido de se ler, sendo os capítulos muito curtos. Contudo eu esperava bem mais.

PRÊMIO SÃO PAULO 2010

Prêmio São Paulo 2010

Olá pessoal. Apesar do luto, o mundo literário não para de todo e para continuar decidimos colocar em destaque o Prêmio São Paulo de 2010, que saíra em Setembro. Aqui estão os finalistas:

Melhor romance do ano
. O filho da mãe (Companhia das Letras), de Bernardo Carvalho
. Leite derramado (Companhia das Letras), de Chico Buarque
. O albatroz azul (Nova Fronteira), de João Ubaldo Ribeiro
. Estive em Lisboa e lembrei de você (Companhia das Letras), de Luiz Ruffato
. Avó Dezanove e o segredo do soviético (Companhia das Letras), de Ondjaki
. As vozes do sótão (Cosac Naify), de Paulo Rodrigues
. A minha alma é irmã de Deus (Record), de Raimundo Carrero
. Pornopopéia (Objetiva), de Reinaldo Moraes
. O livro dos mandarins (Alfaguara/Objetiva), de Ricardo Lísias
. Outra vida (Alfaguara/Objetiva), de Rodrigo Lacerda

Melhor estréia do ano
. A morte de Paula D. (Edufal), de Brisa Paim
. A passagem tensa dos corpos (Companhia das Letras), de Carlos de Britto e Melo
. Sinuca debaixo d’água (Companhia das Letras), de Carol Bensimon
. Sanga menor (Dublinense), de Cíntia Lacroix
. Os mundos de Eufrásia (Record), de Cláudia Lage
. Se eu fechar os olhos agora (Record), de Edney Silvestre
. Hotel Novo Mundo (Editora 34), de Ivana Arruda Leite
. Immaculada (WMF Martins Fontes), de Ivone Benedetti
. Cisão (7Letras), de Livia Sganzerla Jappe
. Ciranda de nós (Grua), de Maria Carolina Maia

E falo nós no sentido que teremos um parceiro nessa empreitada. O site Extremamente Alto & Incrivelmente Perto estará nessa disouta e muitas vezes vamos discordar. Sigam-nos.

Nesse site antes mesmo dos livros serem indicados já tenho criticas dos livros Filho da Mãe, Leite Derramado, AvóDezanove e o segredo dos soviético e Outra Vida. Todos indicados a ficção do ano.

sábado, 19 de junho de 2010

EM LANZAROTE


“Nossa única defesa contra a morte é o amor”
I
Na manhã do dia 18 de Junho do ano de 2010 da era de nosso senhor, José de Sousa Saramago esteve a levantar mais tardiamente que o normal, porém com um vigor que não sentia a algum tempo é certo. O lugar da conjugue já está vazio mas morno o que indica que ela se levantara a pouco, então a demora não influenciara na qualidade do café. Se vestiu o mais simples possível, alias podia-se dizer que ainda estava em pijama. Uma vez que estando em sua casa a formalidade das vestimentas eram de sua ordem e de sua intimidade, ao qual participava a sua mulher, e tudo isso de ser facilmente comprovado pelo uso demasiado do pronome pessoal que estivemos a fazer até o momento. Se a roupa não era elegante em contraponto aos ternos usuais ao qual era visto quando estava em palestras ou simplesmente mandando todo o Estado do Vaticano ao livro do compatriota Antunes, ele sentia enorme prazer em utilizar a malha marrom que Pilar costurara especialmente para o frio de uma primavera distinta até momento, dedilhava a malha e lhe dava prazer em pensar no objecto ao se ver no espelho com o carrinho e simbolismo que ela carregava, crua, grossa e sem estampas como a velhice há de se manifestar nas formas de vidas. O óculos de aro e entes grossas, combinavam com a nova roupa, detalhe importantíssimo visto que sua fronte era quase inimaginável, podemos até dizer que o óculos já era a sua face. Assim finalmente vestido de Saramago ele desceu.
Na cozinha ao som do cantarolar, ou lento murmurar de Pilar sobre a mesa ele foi guiado, também havia um cheiro doce de waffles recém saídos do forno e a própria presença calorosa de sua mulher ao vê-lo pisar no soalho da cozinha. Deixemos os dois fazerem os rituais matrimonias de bom dias, beijos, carícias discretas e comentar sonhos, dores e planos, enquanto estes se arrumam na mesa como é natural. A deglutição do café da manhã após tantas décadas juntos é silenciosa e cheia implícitos construídos pela intimidades. Saramago se detêm a passar um pouco de mel que recebera dos amigos nos waffles morenos estendidos a sua frente, Pillar fica no suco e a contemplar o tempo pela janela da cozinha, um clima que hoje teve um aumento de temperatura grande para a época refletido na clareza do sol ao lado de fora, O verão deve estar a bater do lado de fora, ela o informa Saramago que achava o clima da manhã um tanto frio percebe por fim a clareza da manhã que tinha passado despercebido até o momento, Acordei e tudo estava mais quente, ele responde meio sem pensar e podemos e dizer até que essa informação desencontrada entre os dois essa manhã, pois olhando de maneira ela não acrescenta nada a frase outrora dita, ou seja seria papo-furado, mas José a emenda de maneira económica e brilhante, O calor estava inclusive na sua sombra deixada na cama, o verão está sempre aqui com você. O que provocou aquele olhar de desejo que em outras idades seria convidativo ao coito mas resultou naquele beijo discretamente apaixonado dá em seu lábios, um beijo sempre diferente e suave. Pois bem examinemos a frase, diríamos ele matara dois coelhos com uma escopeta, além de cortejar sua donzela, admitia que ela tinha toda e inteira razão, coisas que universalmente toda mulher desde os primórdios adora. O resultado além do beijo e que ela retira louça sem se demorar em discussões sobre as obrigações masculinas e femininas a respeito do café da manhã, enquanto ele se dirige a varanda aspirar o ar puro do dia coisa que sempre faz. Sigamos.
Ao chegar a sua espreguiçadeira pensou na chegada do verão que se estendia a sua frente, tomou um sorriso ao ver o bule e as xícaras estendidos na mesa de centro. Toda a manhã via aqueles apetrechos deixados propositadamente a sua disposição, mas sempre se surpreendia com essa mulher que a tanto tempo vive e que cantarola de maneira contida a sua felicidade. Sentou-se e se servir do café fresco enquanto olhava para o horizonte pensava em suas ideias que acordaram com tanto vigor quanto ele: O tema da falta de filosofia no mundo, as possibilidades reais da eleição Portuguesa na Copa, o que renderia uma boa cronica sobre a mentalidade lusitana em esportes, e também pensava agora sobre um novo romance em que o verão não acabaria nunca. No meio dessas divagações o xícara lhe pesou o pulso e ele deixou derrubar um pouco do café no chão, o que iria lhe render algumas broncas de seu amor, mas logo essa intermitência a postura da mão cessou e ele levou com rigidez xícara ao lábio aproveitando uma manhã de lucidez solar.


II


Sua visão por detrás das grossas lentes se concentraram a um vulto negro que crescia no horizonte, não sabia se era um bicho, um carro ou um homem mas vinha em direcção a sua casa. Poderia ser um motivo de comemoração, por ser uma ilha Lanzarote não tinha muitas mudanças na rotina adjacente dos dias. Ao mesmo tempo a porta de sua casa abriu e estranhamente José intui pela falta de música ou pela vivida distorção que Pilar trazia que não era ela quem saia para fora de sua casa. Ao olhar meio de lado, meio para trás, viu um homem de barba longa e branca, com um sorriso bonachão se dirigindo a ele, esse senhor, mais especificamente o senhor, conhecido como deus às vezes, estava em pé em seu recinto sem pedir licença, ou por favor, e ainda se dirigindo para invadir a espreguiçadeira ao seu lado. José até pensou em protestar mas é sabido que este se denomina senhor-de-todas-as-coisas, portanto não havia muito o que fazer para com essa situação que resultou na completa apropriação da espreguiçadeira a direita.
Você, E você, respondeu o senhor completando, Vim te ver pessoalmente nesse, Para qual razão, Nenhuma exactamente, estive entediado nesses dias, sabe-se que é chato ser moderno, mas não sabe como é chato é ser eterno, Aí você começa a plagiar passar o tempo. O senhor ficou meio sem graça com a afirmação, pois tinha quase certeza que o autor português não conhecia o poeta brasileira, mas ele já tinha se equivocado antes e ainda sabia ser esperto, Bem que queria homenageá-lo pois depois de Drummond as letras lusitanas se curvam a Saramago, por isso vim a essa jangada de pedra, Sei, disse Saramago ignorando a última e fraca homenagem, Pois saiba que tentei diminuir seu prestígio, há alguns anos soltei um Lobo atrás de você e até deu certo em dado ponto de vista, Por acaso o que aconteceu hoje foi tem algo a ver com ele, disse mostrando o bule de café o que fez o senhor falar atrapalhadamente, Não, não, apesar de ter tentado mais práticas depois de 1991 havia algum tipo de força divina conspirando contra. O olhar indagador do português foi seco e duro para o senhor que continuou fingindo não perceber a contradição, Enfim seu compatriota fez coisas muito piores, O que seria, Foi ficando mais hermético e Cult, então Saramago ri pela primeira vez do senhor.
O ponto escuro já tem a silhueta de um homem e anda com força tal como um viajante, logo ele chegara o senhor ignorando continua sua narração, Aí eu tentei em minha onisapiência enviar algo mais controlável, e mudar de estratégia com um Coelho, Dos nossos nada folgados primos de língua, disse Saramago já estendendo a gargalhada, Exatamente, só que esta foi minha perdição, Sério, Sim, ora pois cravou a lápide, Achei que tinha sido o filósofo alemão, Não até somos amigos agora, a coisa começou a dar errado com um sujeito chamado Kardec que driblou minha onisciência e esse coelho só ajudou, Mas ele não tem nada ver com isso, É quase a mesma coisa, Discordo, Lógico que discorda e agora estou aqui e não sei o que fiz de errado, Que tal total displicência, julgamentos estranhos, regras estranhas, pragas, peste, guerras, Ei, espere um pouco, isso tudo é culpa de vocês, mas talvez eu tenha me desligado um pouquinho e todos podem errar uma vez ou outra. Saramago o olha com olhar irónico e lhe estende uma outra xícara com café, o senhor aceita com um sorriso, alias parece que o senhor só consegue rir actualmente.Então eu ganhei, Não vamos ser drásticos como eu te disse eu nem estou no ringue.
O viajante chega portanto uma mochila em suas costas, mas utilizando um terno irretocável, cabelo curto e anoréxico, se distinguia por um pequeno bigodinho que deveria ser moda antes da segunda guerra, parecia fadigado quando entrou na varanda como o português dos aventureiros, Bom dia, ele disse meio sem fôlego e foi respondido por dois bom dias mais descansados, Sente-se homem o que o traz a essa ilha, disse Saramago e foi prontamente atendido pelo não-tão-estranho personagem se jogar na escadinha em descanso, Trago notícias do mundo exterior, Quais as notícias meu velho, já o reconhecendo como um antigo amigo, este começo a narrar, O mundo paralisou por um instante, as pessoas debruçam em memórias e sentimentos esquecidos, as palavras dos livros ecoam novamente pelos sarais das ruas, a modernidade, minha velha amiga, fala por todas as mídias, por todas as línguas e idades, pequenas memórias invadem mentes alheias até dos desconhecidos, pequenas homenagens em por todas as canetas, há um buraco na alma de quem o conhecia, e há inda naqueles que nunca o viram pessoalmente, o mundo chorou esta manhã pois o escritor morreu. E todos ficaram em silêncio com aquelas palavras do poeta até o senhor quebrar o silêncio, Me dá um pouco de inveja essa atenção como se chama moço, Álvaro Campos e o senhor é, Senhor senhor, Ah sim... Eu trago notícias da modernidade ao meu velho amigo José, E como vai aquele mundo lá fora, continuou o senhor enquanto Saramago debruçava em pensamentos, Mesma coisa de sempre mulheres parindo, pessoas padecendo, jabulamis criando vítimas ali e guerras criando corpos acolá, É assim que tem que ser, completou Saramago, Eles não sabem o que fazer, tentou parecer poético o senhor e fora um pouco mais subtil dessa vez, o autor português para variar entrou em discordância, Claro que dá, enquanto houver palavras e histórias ainda temos ferramentas para solução, disparou, Meu velho amigo eu discordarei de novo, E eu vou ganhar de novo, A atenção é passageira, assim como as histórias e livros , A memória não. Álvaro sentindo o clima mudar tira da mochila um tabuleiro quadriculado,colocando em cima da mesa de chá, Por que vocês não resolvem isso de maneira mais prática, propondo isso tira pequenas tampas da mochila em seguida o que agradou muito o senhor que já estava colocando as damas pretas em seu campo de batalha, Saramago saiu da posição de descanso e pegou as remanescentes, Agora sim eu vou provar para você, E Pilar, perguntou o senhor, Está bem, Sentira sua falta, Eu sei ela me ama, Não quer vê-La, Não ela me ama, Eu posso tentar algo, podíamos fazer um acordo, Saramago ao colocar todas as suas peças posicionadas, ajeita o óculos olhando para o senhor e diz contemplando a expectativa de Álvaro, Vamos jogar damas, ela me ama é o que basta. O senhor juntou as mãos em alegria ao ver que as peças eram firmes e boas para o desafio.
Corre o espectáculo do mundo lá fora e os dois provavelmente estão jogando e discutindo, a única coisa que se sabe de ciência certa é que continuaram a discutir até então. Apesar de não haver mais nada o que contar as histórias nunca acabam de todo, as notícias que Álvaro trouxe se debruçam continuamente no papel e tudo isso ocorreu no dia 18 de junho em Lanzarote.

 

Por Rafael de Souza Menezes

jose-saramago

Adeus ao mestre, uma pequena homenagem a tantas outras que somam ao redor do globo. 87 anos de lucidez.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Túnel, O de Ernesto Sabato


tunel,o "Que o mundo é horrível é uma verdade que não requer demonstração. Em todo caso bastaria um fato para prová-lo: num campo de concentração, um ex-pianista queixou-se de fome e foi obrigado a comer uma ratazana, só que viva."

Se o trecho acima fez algum sentido para você, comece a se preocupar pois você pode estar se identificando com um personagem realmente aterrorizante. Estranhamente foi o trecho que me fez engolir o livro em uma tacada ininterrupta. O túnel é uma das experiências mais perturbadoras que a literatura produziu, neste caso a literatura do hermano Ernesto Sabato.
A trama é simples, mas sua execução é que primorosa: O narrador da história Juan Pablo Castel está na prisão e por meio de sua prosa direta e analítica, ele pretende narrar o seu crime: O assassinato de Maria Iribarne Hunter, a única mulher que o compreendia e que ele amava.
Assim sendo volta ao passas à uma exposição de seus quadros para apresentar esta mulher que se alumbrou com um de seus quadros mais simples, o de uma mulher na janela, e  intrigado com a figura misteriosa ele começa a procurá-la, quando a encontra começa a persegui-la até, por incrível que pareça desenvolver um caso adúltero com ela. Porém ele é um homem cheio de dúvidas, problemas, ciúmes e inquietações que consomem toda a narrativa sobre a natureza daquela relação, mais até do que os momentos bons com ela. Só existe a dor que a mulher produz nele, contudo esta é uma dor que não possui lógica, basicamente é um recorte da loucura do próprio personagem que progride até o derradeiro ato da qual ele não se sente culpado, mas fica intrigado com a palavra Insensatez que lhe proferem, motivo que ele ainda ao final do livro procura explicar, pois em seu relato ele procura demonstrar que a razão foi dele.

A genialidade da narração fica por conta dessa lógica do discurso de Juan Pablo, que pega o niilista moderno em nós e cria uma ponte de identificação com este leitor. depois te leva por esse túnel escuro da mente do personagem pelo mesmo timbre até Juan Pablo começar a fazer associações como esta:

“Fiz repetidos esforços para posicioná-los na ordem correta, até conseguir formular a ideia desta fórmula terrível: Maria e a prostituta tiveram uma expressão semelhante , a prostitua fingia prazer; portanto Maria fingia prazer. Maria é uma prostituta.

- Puta, puta, puta! – gritei saltando da banheira.”

Se isso fez algum sentido, vá ao hospício rapidamente. É um livro perturbador, pois até o último minuto nós queremos que ele se arrependa ou que os motivos do crime façam um sentido mais palpável em nossas cabeças. O que há é um túnel escuro em direção a loucura, em dado momento da leitura você toma conta da inevitabilidade desta direção mas não tem como parar. É um livro terrivelmente bom.

terça-feira, 1 de junho de 2010

LOST – THE END

8kn00mfo_500

 

Há algum tempo eu não visito essas linhas por motivos que vão além do que um mero ser humano pode querer: Falta de Tempo/Espaço em meu contínuo existencial. Contudo como adiantei na postagem anterior o Maior evento do Ano se aproximava e como eu tempo uma camiseta da Dharma, me juntei há milhões assistindo licitamente ao último episódio de Lost há alguns dias. Agora que baixamos o filme sem comerciais, legendas e tudo o mais que havia de disponível na minha sexta temporada pirata. E a primeira coisa que quero informar é que essa matéria vai contrariar minha lógica de dar informações diretas sobre as possíveis surpresas que um interessado no assunto pode ter, ou seja, significa que há SPOILERS aqui. Então pare de ler se você não viu o último episódio, se bem que, se não me engano se você não viu já bombardeado por milhões de informações a respeito.

Devo dizer que não estava esperando mais nenhuma surpresa com relação ao sitcom, e seus últimos 15 minutos foram um choque ao vivo. Olhando com mais apuro agora, tudo começava a apontar para aquele desfecho:  “Christian Sheppard?” brinca Kate logo no primeiro minuto emendada por um Desmond sóbrio “We have to go”. As pistas pululam e como desde a primeira temporada o pessoal da produção jurava de pé junto que os personagens não estavam mortos, nós engolimos a isca direitinho e nessa última temporada a possibilidade nem passou pela cabeça de nós. Eu devo salientar que eu achei isso genial!! E eu não sou um crente. Devo também informar que quase chorei ao final do episódio.

Em si tudo estava bem definido. Locke/Fumaça-Negra procurava Desmond para destruir a ilha, Jack se tornou um novo Jacob e tem que proteger o coração da Ilha agora, mas ele é ousado e arrisca a própria destruição desta para destruir a fumaça negra e tirar os remanescentes da ilha. Não há explicações sobre que é maldita, que com certeza tiraria muito do charme que o seriado tem, só existe uma luz no interior da ilha que o bem mais valioso do mundo. Na outra realidade em que o avião não caiu, os personagens vão se encontrando e relembrando como foi a vida na ilha, somente Jack que luta contra as memórias involuntárias que os outros suscitam nele. Até o velório do pai em que este aparece e lhe mostra sua vida na ilha e a realidade da situação: Não era uma realidade paralela cientificamente plausível e sim um lugar criado para que todos se reencontrassem e pudessem seguir para outro plano: Eles estavam mortos! É irônico, genial e emocionante já que toda essa cerimônia ocorre paralelamente aos últimos momentos de Jack agonizando mas feliz por ter salvado tudo e culmina em sua morte no mesmo em que começou.

Para mim foi o melhor seriado em muitos anos, algumas coisas ficaram na história com Arquivo X, mas descambou muita idiotice em seu final. Outros como  A Sete Palmos são memoráveis muito mais por sua conclusão. O difícil em um seriado dramático é manter o nível em todos os seus anos. Pois depois de alguns episódios a fórmula começa a ficar manjada. Lost mostrou que não é necessário se agarrar aos gêneros ou pode se agarrar todos. Um seriado que começa como um seriado de sobrevivência, mistério com monstros e teorias científicas, pura ficção científica em alguns episódios e não largou em nenhum momento a veia dramática do show e termina como a velha briga entre o bem e o mal, questionando tal como John Locke a crença das pessoas. Podemos dizer que eles se acharam no final, o que dá um novo significado para o título. Podemos dizer que muita gente odiou o final e muita gente amou. 8\80. Não há meio termos, mas pelo nível tão distante de emoções que rodeiam este seriado atualmente só posso dizer que se você ainda não assistiu, assista do começo ao fim. Possivelmente não haverá nada igual na televisão por um bom tempo.

alg_fox_lost

Bye Jack. Nunca foi preferido, ams vamos sentir saudades.