sábado, 9 de maio de 2009

LITERATURA: O FILHO DA MÃE, Bernardo Carvalho



“As quimeras são raras e os pastores nas montanhas as veem como mau agouro, porque põem a reprodução em impasse, fazem da reprodução uma monstruosidade”

No novo romance de Bernardo Carvalho a ação incrivelmente passa-se em São Petersburgo e seu pano de fundo é a guerra da Tchechênia! Sem nenhum resquício do regionalismo tradicional na Literatura Brasileira, salvo alguns coadjuvantes insignificantes como ponto de ligação à nossa cultura, o resto é tudo russo, o que significa que as questões abordadas são de ordem pessoal e não social. Sendo que estamos diante de um romance que trata basicamente da guerra, a desestruturação da família tradicional e do amor homossexual, isso é uma vitória contra a mesmice e mostra o alto nível de nosso condutor.
Estruturalmente complexo, disperso no espaço e em certo grau no tempo, vemos um mosaico que desmonta a concepção de família, onde há pais ausentes espiritualmente e fisicamente,  e quando presença patriarcal se manisfesta demonstra como o patriarcalismo produz mães castrada. O que gera filhos orfãos não só na psicologia, mas no mundo que os cerca, fadados a desgraça.
A guerra é somente um pano de fundo (o que é uma pena, pois se tivesse abordado o tema de que a guerra no ponto de vista da psicanálise, de que a guerra é uma masoquismo entre homens o romance enriqueceria ao extremo, mas no fim o livro não é meu...), em sua primeira parte “Trezentas Pontes”, vemos como uma vó, faz de tudo para tirar seu neto da guerra (emocionante). Ruslan então parte para encontrar sua mãe em São Petersburgo, sem ilusões mas com esperança. Ao encontra-la ele será completamente enxotado. A segunda parte “As quimeras” , acompanhamos outro orfão espiritual, Andrei, que tenta fugir da guerra sozinho, o dinheiro que propiciaria essa fuga é roubado por Ruslan, agora um ladrão. Aos poucos a relação dos dois vai encurtando, conforme o cerco se fecha sobre eles, da atração inicial eles evoluem para o amor incondicional, uma evolução interessante visto que não tendo uma família real, eles acabam encontrando sua família um no outro.
O epílogo deixa claro, utilizando a inteligente metáfora das quimeras, de qual é o destino de um amor impossível, principalmente quando o mundo o refuta.
Vale um Jabuti.

Nenhum comentário: