domingo, 24 de maio de 2009

LITERATURA; ZAZIE NO METRO, Raymond Queneau

Raymond Queneau não é conhecido no Brasil, alias eu nunca tinha ouvido falar nesse autor antes od livro em destaque, o que é realmente uma pena considerando que ele é do círculo de amizades de George Perec, um dos autores mais insanos que eu cheguei a ter contato, e que pela pequena biografia de posfácio que eu li, ele tem muito a acrescentar para a literatura mundial. Zazie é um anti-romance e uma pegadinha maldosa e genial.
O enredo é simples e decorre em uma período de tempo curto, relata a visita de Zazie a seu tio Gabriel em Paris durante um greve de metro, o fato irônico é que a única coisa que Zazie queria fazer era passear de metro, a pobre garota não tem mais nada que fazer a não ser infernizar todos a seu redor! Zazie é uma garota e totalmente sem educação, a cada meia página sai uma pérola de sua boca com a intenção de irritar quem esteja a seu lado. Seu tio é um homem que dança transvestido de mulher em uma boate gay, casado com um mulher que pode ser lésbica, tem uma vizinhança estranhíssima com direito a um papagaio com lampejos de sabedoria e um vilão de várias faces que aparece por todo o romance e uma viúva patética.
Sim, é um livro engraçado, mas não do tipo que te faz garalhar, mas daquele que te deixa com um sorrizinho nas extremidades da boca ao ver tantas situações inusitadas se acumulando a uma protagonista que é um ser surreal. Escrito em 1959, ele claramente se centra na classe proletária da França, nas pessoas comuns e em suas peculiaridades, o povão por assim dizer, e há um certo toque de crítica ao totalitarismo de uma classe oprimida como fica claro no final. Esse é o grande trunfo a obra, ela une o cômico ao sério e não faz um distinção clara de onde começa “a realidade” e onde termina a sátira de costumes, até seu final bombástico tem os dois elementos unidos, com a única diferença que a realidade por um momento se sobrepõem ao non-sense e com isso Zazie termina seu itinerário dizendo “Envelheci”, e é onde temos total compreensão da obra, tamanha a sua força. Grande literatura e Raymond precisa ter seus outros títulos traduzidos para o português.
P.s. Só para puxar um pouco o saco de uma de minhas editoras favoritas, é um linda edição do livro que parece ter sido impresso em vários cartazes antigos que ficavam no metro, um contra capa que é um poster e papel especial que lhe permite ver os 96 desenhos. Ainda posfácio do grade Roland Barthes. Recomendadíssimo para quem ama um bom livro, e para quem gosta de livro-objeto.

Nenhum comentário: