Inimigos públicos é novo trabalho de Michael Mann, um diretor que não é dos mais reconhecidos em solo americano, mas é, na minha opinião, um dos mais tecnicamente perfeito cineastas do novo cinema americano. Dois de seus filmes são obras primas dentro do gênero: O informante e Colateral. Uma de suas características é usar uma câmera quase documental, o que se amplia na atualidade, uma vez que ele anda filmando com câmeras digitais de alta-definição. Um outro fator decisivo é como ele retrata nosso mundo com um cinza característico em que nada é certo, e um vilão como Tom Cruise pode ter a simpatia do espectador com poucas palavras.
Talvez ele tenha produzido o melhor exemplar desta visão invertida dos valores nesse seu novo trabalho, uma cinebiografia de John Dilligan, um assaltante de bancos que foi o primeiro inimigo público durante a depressão. Caçado em todos os Estados por seus delitos, Dilligan foi morto em 1934 pelo recém criado FBI. O filme, no entanto, não narra a vida Dillinger desde a infância até seus momentos finais, preferindo se concentrar nos seus últimos anos, entre 33 e 34, assim sendo vemos a queda do mito, e o caminho é sofrido.
Interpretado por Johnny Depp, nas mãos de outro ator ele poderia ou ter se tornado um herói virtuoso, ou uma caricatura de gangster, já que olhando analiticamente o personagem quase não tem passado, ou explicações do porquê ele fa isso, a única coisa que notamos é que um assaltante de banco, que é virtuoso e leal. Tirando o fato de ter sido caçado em todos os Estados, ele é de longe um espécie de herói no filme. Johnny equilibra essa dualidade até o fim, levando seu personagem a canastrice de suas ações, a tensão proveniente de se estar cada vez mais acuado e sem fuga. Seu par romantico é a bela Marion Cottillard pós-Piaf, que dentro de um papel limitado faz um excelente trabalho.
Agora o ponto alto do filme não é caça de John Dillinger e sim o apogeu do Bureau de Investigação que é alçado na perseguição destes criminosos por Christian Bale, interpretando um personagem igualmente dual, ele lidera a caça enquanto o futuro FBI começa a utilizar uma atitude cada vez mais repressora e fascista para conseguir os resultados, tal como tortura, prender pessoas inocentes, coação e um série de delitos que vão sendo justificados para manter a ordem.
É um filme tenso, resumindo, em que o bandido é o mocinho, a lei se torna a vilã. Em que os valores estão desvirtuados e invertidos e essa seria nossa percepção brasileira, mas dentro do contexto americano é ainda pior, uma vez que os assaltos a banco desta época são vistos como a última opção de pessoas desesperadas com a depressão, e os bandidos eram vistos como Robin Hoods modernos, vide a fama que Bonnie e Clyde tem até hoje. Michael Mann ainda cria cenas belíssimas como a mOrte do Amigo de Dillinger nos primeiros minutos do filme ou a morte de Baby Face Nelosn, na melhor cena. Mas não se enganem não é um filme de ação, ou um blockbuster de verão, muito menos um filme de gangster normal, é m filme inclassificável em uma época em que uma nva depressão nunca este tão próxima dos EUA.
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