quarta-feira, 26 de agosto de 2009

VENTO DA LUA, Antonio Munhoz Molina


O quase desconhecido autor espanhol em destaque talvez o seja por seus temas pouco usuais, Vento da Lua é um romance que narra a experiência de um garoto nos cinco dias em que a Apollo 11 começou seu curso para aterrizar na Lua, ou seja, é um romance que mostra a conquista lunar do ponto de vista de um menino castelhano pobre. A pergunta que fica é quem quer ler isso?
Algumas vezes podemos sentir isso ao ler o resumo de certa novela, conto ou romance. Da duas uma ou é uma porcaria ou é muito mais do que pode caber em meros resumos. O que vale a um leitor intrépido um risco a se correr, e felizmente nesse caso estamos diante da segunda hipótese.
A viagem a Lua é eixo central da estrutura do romance, todas as reflexões de nosso narrador estão inseridas nesse contexto. A escolha por essa narrativa pode ser biográfica mas não conheço o suficiente o autor para averiguara esta, mas tenho certeza que o fascínio que garotos tem por piratas, dinossauros e, acima de tudo, astronautas pode explicar os desejos desta criança em ser um astronauta, os pulos que ele dá assumindo a exploração espacial para sua própria exploração psicosocial.
Em uma região afastada do centro, sob uma ditadura ainda que repercute, sendo o mais inteligente da família, em meio a dúvidas religiosas e os primeiros desejos sexuais, aborrecido pela vida entre bananeiras a qual é submetido dia-a-dia. É pano para chão e quase não cabe nas quase trezentas páginas do romance. Os coadjuvantes são igualmente ricos, o pai que ignora todo o avanço e quer que o filho trabalhe mais e estude menos, o vizinho pão-duro à beira da morte, a avó que tem sempre uma pérola na língua para soltar, o padre jovem que o quer converter e tem todos os pensadores socialista em sua cabeceira e a lista não para por aí.
Molina faz uma narrativa em que memórias se mesclam com aforismos, o engraçado ao dramático mascarado, os pensamentos conduzem a formação deste herói contemporâneo lutando contra o próprio meio existêncial. Mas o melhor em um romance tão perfeito é o seu final, em ainda consegue um fôlego extra em nós dar o verdadeiro peso das memórias, o peso da conquista espacial e resignificar mais uma vez o tema já pontuado, fechando assim com arco de ouro a reflexão sobre a vida e o tempo. Fantástico em muitos sentidos.
Agoa vou ler um romance sobre imigrantes na América pós 11/09, em que o eixo central são as conversas em jogos de críquete. Veremos.

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