domingo, 3 de janeiro de 2010

PEANUTS COMPLETO 1950-1952, Charles M. Schultz


Charles Schultz foi um garoto tímido, que era chamado de Sparky, tinha problemas com garotas e muitas inseguranças, demasiadas para sua infância. Aos 27 anos, após voltar vivo da guerra Ele começou uma das tirinhas mais famosas de nossa geração: Peanuts, ou em tradução livre Minduim. Para quem ainda não identificou por ser muito jovem eu estou falando de Charlie Brown e sua turma, e do excêntrico cachorro Snoopy. Ah... Agora sim você se lembra. A tirinha da qual Charlie Brown nasceu, começou em 1950 e a Lpm vai lançar integralmente a partir desse ano (na verdade começou em dezembro) a obra completa e bote livrinhos para isso pois a última tira que Schultz escreveu fora em 1999. Prevejo então uns 24 ou 25 encadernados de capa dura e com umas 300 páginas.
Houve um tempo em que eu ia na Bienal do livro com a referência de duas editoras para achar algo legal relacionado a quadrinhos: Devir na qual havia uma grande mesa de RPG, na qual uns caras estranhos ficavam jogando e meu maior desejo infantil era aprender a jogar e detonar com aqueles nerds, o Magic fazia muito sucesso e ficava umas menininhas uniformizadas demonstrando as cartas do jogo. E havia Panini, que jogava e creio que ainda joga, uma porrada de revistinhas em várias caixas e você tal como garimpeiro de sebo ficava procurando alguma coisa que terminasse aquela história que você tem parado no quarto.
Enfim... Os tempos mudam isso ainda ocorre provavelmente, mas temos o Quadrinhos na Cia. Trazendo Graphic Novels inéditas a solo nacional, o Tin-Tin voltou a ser publicado, Jbc traz um monte de coisa do oriente, a Conrad, compete diretamente com os dois sem se especializar em nada (Eles perderam o Sandman, estou bravo desde o ano passado), a Via Lettera Ana mal das pernas, agonizando diria...e a L&PM a melhor editora de livros de bolso, começa a se especializar em trazer tiras completas. Eles já tinham uns pockets bem legais do Dilbert, Garfield, Snoopy, etc, Trouxeram todas as tiras do Garfield em um senhor álbum, agora prometem Peanuts completo e creio que podemos ficar sossegados. Eles vão editar.
Falo isso, pois os fãs de Peanuts aqui no Brasil são inúmeros. Se você pesquisar no Orkut quantas comunidades existem sobre o Charlie Brown, você se surpreenderá, sendo que a que eu mais gosto é “Eu tenho complexo de Charlie Brown!” Bem eu também tenho! Se os mais novos só se lembram do Snoopy, essa publicação cronológica é fantástica pela riqueza que ela contém. Desde a primeira tira sentimos o porquê de ser ta revolucionária. Charlie Brown passando e Sermy comentando sobre o “bom e velho Charlie Brown”, frase que o seguirá sempre, para no último quadrinho ele completar. “Como eu o odeio”. Essa maldade no mundo das crianças é a tônica das primeiras histórias, o universo adulto retratado nas figuras de Charlie, Shermy, Paty e Violet é o que se seguirá sempre em todas as transposições. Charlie Brown usa terno e roupas estranhas, discute com as personagens assuntos referentes ao amor, se revolta, amarga seus fracassos ao mesmo tempo que come tortinhas de lama, brinca com os amigos e vai crescendo conforme o tempo passa.
Nesse volume temos os primeiro balões de pensamentos do Snoopy, o aparecimento de Schroeder (uma criação genial diga-se de passagem), a primeira aparição de Lucy ainda bebê e de seu irmão Linus. Mas escolho como o principal momento as série de tiras que Charlie fala, olhando diretamente para nós, “Eu não agüento mais!!!!!!!!!!!!!!!!”. Esses momentos é o que tornam a tira um clássico. Dentro dos quadrinhos o menino Charlie Brown é o melhor representante da teoria mal estar na modernidade que começa em Baudelaire e ainda é visitada por Zygmaunt Baumann. Um dos motivos de sua popularidade é essa depressão constante ao qual ele se lança e que é tão similar ao que se realmente sente nesse mundo pós-moderno. O mais interessante é ver como a tirinha vai tomando a cara desde os primeiros quadrinhos em que Cherry e Paty apareciam mais, a partir da 24ª tirinha é que começam a se centralizar na figura de Charlie, já ao final do volume notamos como as crianças cresceram um pouco, outros personagens foram introduzidos e uma certa constância nas pequenas histórias começa a transparecer e dar uma personalidade a estes. Exemplar obrigatório na casa de qualquer fã de quadrinhos.

Um comentário:

Matias Minduim disse...

Viva Minduim!

e lembro aqui da definição do Umberto Eco para Peanuts: dilemas Shakespeareanos expressados em poucos balões em uma tira