domingo, 26 de julho de 2009

FLORES, Mario Bellatin


" Uma mulher na Itália depois de tentar drante muitos anos, com seu marido, a adoção de uma criança sul-americana, acabou atirando- a aos trilhos do trem"

Quando este livro foi apresentado a mim a alguns meses atrás, foi descrito como um livro de contos que eram meio que intercalados, uma mentira deslavada! Mas é um desses livros no qual qualquer classificação vai se falha. Um romance pequeno, uma novela complexa ou contos que giram em um mesmo eixo temático, a verdade é que não importa, Flores é esquisito!
Dois pontos a serem vistos antes da leitura: Mario Bellatin não tem um braço. Ele mesmo diz que vai tentar fazer uma narrativa em que seriam contos com nomes de flores para serem lidos independentemente de um contexto, ao mesmo tempo que faria uma narrativa complexa tentando utilizar os mesmo para construir algo, que seria uma novela ou romance, e anexo a isso o fato dele ter uma escola de escritores no méxico, ou seja, ele é bem prepotente. Mas isso é legal, pois Flores é legal! Contudo devo dizer que ele falha miseravelmente na primeira proposta, visto que esses contos não podem ser apreciados separadamente, simplesmente não rola em vários deles em que é necessário uma contextualização, em todo caso essa proposta caiu muito bem quando consideramos que é um novela e vemos ela como inovadora na estrutura de novela, mas foi cagada, vide que o intuito foi fazer um livro de contos... contudo como disse Flores é legal.
A história é fantástica com certos pontos de realidade: Um remédio que fora comercializado para controle de hormônios, anos depois é descoberto que ele responsável por vários nascimentos de crianças deformadas, em alguns casos como na Alemanha até mutantes são criados. Junte-se a isso um escritor tentando se encontrar espiritualmente e sexualmente, um casal em crise, um homem que ama velhinhos, e digo isso com a parte mais carnal da sentença, e uma mulher com gêmeos destituídos de braços e pernas e vários outros fragmentos que se intercalam da violência dos pais para com os filhos, seja ela intencional ou acidental. A salada tá feita!
Um dos eixos significativos é esse relacionamento entre pais e filhos que é salientado em vários pontos, outro eixo forte é o tema da amputação tanto a física quanto nas partes emocionais dos indivíduos que estão a procura de algo para acreditar ou amar, pois estão amputados destes sentimentos e como eixo mais forte e central, há um permanente questionamento a respeito dos limites da ciência em nossas vidas. Como se ela fosse o responsável por tudo o que vemos no livro. Não é por acaso que aquilo que deveria curar cause um mal terrível e que um doutor lucre com isso, enquanto grande parte da população sofre da destituição da carne. Flores é pesado em sua brevidade, e aterrorizante em sua concepção fria da história. Bellatin se afasta o máximo possível de seus personagens (alias o escritor se chama Mario Bellatin), o que é um duplo cinismo, pois as flores aparecem em quase todos os capítulos são artificiais, elas enfeitam, elas só constam, e também porque flores são a linguagem poética por excelência e o livro não tem nada de poético, essa permanente artificialidade só aumenta a crítica á ciência.
Um livro forte e bem construído, contudo não é oitava maravilha do mundo, alias sua falta de final pode irritar muitas pessoas, mas creio que deve ser escutado ao som de Flores do Titãs que é acompanhamento perfeito.


“... os pulsos cortados e o resto do corpo inteiro.
Há flores por todos os lados, há flores em tudo o que vejo
(…)
As flores tem cheiro de morte.
A dor via curar esses cortes.
Flores.
As flores de plásticos não morrem.”

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