O príncipe Bertie (Colin Firth) falha em se comunicar com a população, é sinônimo de chacota real pois tem uma gagueira incontrolável toda vez que necessita fazer um discurso ou fica nervoso. Ele tenta vários especialistas em vão, e apesar de já não achar que pode se curar, sua mulher é persistente (Helena Bohan Carter) e consegue-lhe um médico austríaco com uma técnica peculiar, que pode muito bem ser um charlatão (George Rush). Entretanto os dois desenvolvem um relação que ultrapassa as classes sociais e preconceitos, especialmente quando Bertie assume a posição de Rei, vide que seu irmão Eduardo VIII resolve pular fora da vida real. Essa é a história real do Rei George VI e como ele superou, parcialmente, a gagueira durante o período da Segunda Guerra Mundial, onde seus discursos de inspiração para as tropas britânicas ficaram na história. E esse é o resumo de um filme que no papel poderia ser uma das coisas mais chatas e específicas que o cinema inglês já fizera. Mas não é.
Fazendo uma piada sórdida, apesar de inglês o filme é extremamente engraçado e tem um trunfo relativamente novo no cinema e muito eficaz: Colin Firth. Esse ator que ganhou mais notoriedade ao bater Hugh Grant pelo coração Renee Zelwegger no fofo, O diário de Bridget Jones, e vem oscilando filme com essa característica mais light com trabalhos de interpretação densos como este filme e Direito de Amar. Tanto O Discurso como O Direito, em dado momento fixam uma câmera em close no rosto do ator e deixam que a narrativa se guie pelo poder de atuação de Firth. Isso é que ter confiança no ator! E totalmente merecida.
Mais um elenco afiado, um roteiro esperto e um diretor genérico. Discurso do Rei se firma como um filme delicioso de se assistir. É uma gracinha. Entretanto não passa muito disso também. Todo o furor que o filme causa atualmente, creio que é muito em cima de Firth mas mais ainda em cima de ser algo totalmente diferente do que se se propõem. Como disse a história acima poderia ser bem maçante, mas ele passa longe de ser um relato histórico (Passa longe de questões como a real importância de Churchill, que é um mero coadjuvante ou o fascínio que o Rei Eduardo VIII tinha pelo nazismo) e se concentra na relação entre paciente e médico e como estes personagens se transformam um com o outro. O filme se baseia na química entre Rush e Firth e ainda tem Bohan Carter, incrivelmente discreta, e dando um de suas melhores atuações desde o Clube da Luta.
A história não se deixa levar para um drama histórico, o que para uns é um erro, para mim é um acerto. Entretanto a direção poderia ser mais ousada. Fazendo um paralelo com o Direito de Amar, que também tem uma atuação monstruosa de Firth, esse é o extremo oposto do ponto de vista do mise en scene. Se em O Direito, Tom Ford estava encantado fazendo malabarismos excessivos com câmera, em O Discurso, Hooper tem uma direção tão quadradinha e genérica, o eu não é um problema do ponto de vista prático, mas na Inglaterra ele não fosse um cara que faz direções esteticamente desafiadoras (muito mais pra Tv, mas ele tem uma carreira interessante), o que não deixa de soar como ironia… inglesa.
Provavelmente ele será o grande vencedor do Oscar nesse domingo. Há uma ligeira vantagem nesse momento que cresce, pois seu concorrente A Rede Social, ainda é um filme que escapa muito das narrativas e temas tradicionais, e o Discurso do Rei, com sua produção e direção corretas, roteiro esperto e atores maravilhosos, acaba apetecendo o gosto da Academia. Não será injustiça se ganhar, contudo não creio que o Discurso do Rei figure entre os clássicos indubitáveis do cinema.
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